Mantendo a Saúde Mental e Emocional no Ministério

– Pastor Marcelo Aguiar

 

            “Porque Deus, quem disse: Das trevas brilhará a luz, é quem brilhou em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus na face de Cristo. Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não da nossa parte. Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desesperados; perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos; trazendo sempre no corpo o morrer de Jesus, para que também a vida de Jesus se manifeste em nossos corpos” (2 Coríntios 4.6-10 – ibb)1.

 

            Os tempos atuais assinalam uma verdadeira crise para os ministros e sua saúde. Deparamo-nos com a frustração, o esgotamento, o abandono, a depressão e, em casos extremos, até mesmo com o suicídio. Às vezes, parece que o ministério não é exatamente aquilo que imaginávamos quando atendemos ao chamado! Por que isso acontece?

            1) O ministério é um santo paradoxo. Segundo o apóstolo Paulo, uma luz sobrenatural explodiu em nosso interior – mais potente do que a de uma supernova. Mas nem por isso nos tornamos sobrenaturais – “Temos, porém, este tesouro em vasos de barro”. Essa tensão do ministério nos mantém dependentes do Senhor. Aquilo que para nós parece estranho, a Bíblia considera normal. Aquilo que vemos como problema, Deus enxerga como estratégia.

            2) Enfrentamos lutas e perseguições. De acordo com o apóstolo, vivemos atribulados, perplexos, perseguidos e abatidos. O ministro convive com várias pressões: espirituais, físicas, emocionais, familiares, eclesiásticas, sociais... e isso pode levar a várias formas de adoecimento. São as chamadas “doenças de pastor”: um risco ocupacional.

            3) Experimentamos a ressurreição interior. Ainda de acordo com Paulo, não precisamos estar angustiados, desesperados, desamparados ou destruídos. Todos os dias, na vida do pastor, verifica-se um milagre. A morte e a vida de Jesus se manifestam em seu corpo. Repete-se uma ressurreição diária! Deus investiu em nós, quer cuidar de nós... e nós precisamos nos cuidar também. Saúde mental é questão de equilíbrio, e devemos nos conscientizar disso.

            Quando falamos sobre saúde mental e emocional, podemos pensar em um conjunto formado por uma torre (a nossa estrutura psicológica) e uma pedra colocada sobre ela (as pressões que suportamos). Se a torre for frágil demais, ou se a pedra for grande demais, a estrutura entrará em colapso. Primeiro aparecerão rachaduras e tremores. E se nada for mudado, todo o conjunto poderá desabar.

            Essa é a diferença entre estresse (uma preparação do organismo para lidar com diferentes situações), eustresse (que faz com que o indivíduo se sinta entusiasmado e produtivo) e distresse (que faz com que a pessoa tenha problemas físicos, emocionais, relacionais e espirituais).

            Sendo assim, para que tenhamos uma vida mental saudável no ministério é necessário cuidar do equilíbrio entre a nossa estrutura psicológica e as pressões que suportamos. Centenas de anos atrás, Charles Spurgeon já dizia: “Nosso Deus tornará mais leve o fardo ou mais fortes as costas; diminuirá a necessidade ou aumentará o suprimento”.

            Existem alguns passos que todos podemos dar na direção de conquistar e manter uma existência saudável. Eles visarão alcançar e conservar o equilíbrio. Trarão benefício a nós mesmos, às nossas famílias, às nossas congregações e ao nosso ministério. Poderão nos proporcionar uma vida mais longa, feliz e produtiva. Alguns desses passos são:

            1) Busque conhecer a si mesmo. A Bíblia diz que Deus “conhece a nossa estrutura; lembra-se de que somos pó” (Salmo 103.14). Entender a si próprio e observar os seus limites são marcas de uma pessoa sábia. Esse conhecimento pode ser alcançado através de meditação, leituras, cursos, testes, mentoria, psicoterapia, feedback, e assim por diante.

            2) Examine os seus fardos e a razão de carregá-los. Jesus afirmou: “O meu jugo é suave, e o meu fardo é leve” (Mateus 11.30). Às vezes estamos carregando fardos que não nos foram dados pelo Senhor. Outras vezes nós os carregamos com uma atitude errada, que reflete convicções equivocadas ou inseguranças emocionais.

            3) Compartilhe os seus sentimentos e emoções. A Palavra de Deus aconselha: “Levai as cargas uns dos outros, e assim cumprireis a lei de Cristo” (Gálatas 6.2). Na matemática divina, as tristezas divididas diminuem, ao passo que as alegrias divididas aumentam. Por isso, é sempre melhor dividir! Podemos nos abrir com familiares, irmãos, colegas ou profissionais.

            4) Busque um estilo de vida saudável. “Tem cuidado de ti mesmo”, escreveu Paulo a Timóteo (1 Timóteo 4.16). Lembre-se de reservar um dia de descanso, de tirar férias, de consultar o médico (e de tomar os remédios), de viajar, de ter um hobby, de diminuir o ritmo, de dar atenção à família, de alimentar-se bem, de fazer exercícios, e assim por diante.

            5) Priorize o seu relacionamento com Deus. Recordamo-nos das palavras de Jesus: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei” (Mateus 11.28). O ministério traz consigo o risco de uma distorção ocupacional: trabalhando para Deus, podemos deixar de trabalhar com Deus. Os momentos devocionais podem prevenir esse mal.

            Certamente o Senhor almeja a saúde emocional dos ministros cristãos, pois ele os redimiu com o seu sangue e os capacitou para a sua obra. Que Deus nos ajude a alcançar esse objetivo! Ministros mentalmente saudáveis são uma dádiva para a sociedade, um renovo para as suas congregações, um esteio para suas famílias e uma bênção para si mesmos. Mais do que nunca, esse é um desafio que se coloca diante dos escolhidos de Deus.

            Que o Senhor assim nos abençoe!

 

 

  1. Versão bíblica usada: Almeida Revisada Imprensa Bíblica.
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