O que farei? Quer sejamos crentes ou não, todos nós temos de tomar decisões acerca de questões tais como educação, casamento, família, trabalho, negócios e religião.
Um rapaz que planeja fazer um curso superior terá de decidir se vai seguir engenharia ou sociologia. Um homem tem de resolver se vai se casar nos próximos anos ou se permanecerá solteiro. Uma moça solteira talvez tenha de decidir se vai ou não aceitar um convite de um certo rapaz, o que naturalmente dependerá do que ela pensa dele. Uma pessoa poderá ter de decidir se vai ser católica ou protestante, se dará ouvidos a um pregador modernista ou um genuinamente evangélico, ou se não vai ouvir nenhum.
Algumas decisões são muito difíceis de serem tomadas. Muitas vezes temos de tomar resoluções acerca de coisas que somente nós conhecemos. Essas decisões ocorrem em nosso íntimo. Se fôssemos falar delas a alguém, a pessoa que nos ouve talvez ficasse confusa, pois existem certas distinções que são muito pessoais.
O apóstolo Paulo teve de passar por uma experiência de escolha íntima: se ele viveria de acordo com seus próprios planos ou pelos planos de Cristo. Ele disse: “Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que agora tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim” (Gálatas 2.19,20 – grifo do autor). Nós também, pela graça de Deus, podemos viver esta vida de perfeita união com Jesus Cristo.
Muitas vezes, repetimos a frase: “Não mais eu, mas Cristo”, mas compreendendo apenas em parte o que Paulo quis dizer com isso. Os crentes que já aprenderam o que significa viver sob o controle do ego, entendem que pode haver certas diferenças entre o que nós pensamos e o que Deus pensa.
Chega um momento em que o crente começa a se indagar como poderá distinguir entre o que procede dele próprio e o que procede do Espírito de Cristo. É possível que queiramos fazer uma coisa que não é contrária à lei de Deus, e, no entanto, o Espírito de Cristo, que habita em nosso interior, pode pensar diferentemente. Somente o Espírito Santo pode nos dar consciência dessa união com Cristo e guiar-nos a uma vida que agrada a Deus.
O apóstolo Paulo, por exemplo, em uma de suas viagens missionárias, tencionava ir a Bitínia, mas as Escrituras dizem que o Espírito Santo não permitiu que ele fosse para lá, mas, em vez disso, conduziu-o para a Macedônia. Não houve aí uma mudança moral, mas, sim, uma modificação geográfica. As maravilhosas consequências dessa decisão foram sentidas por outros, mas a escolha foi pessoal.
Se andamos em amor, não temos de nos preocupar acerca de todos os detalhes de nossa vida. Mas haverá momentos quando teremos de enfrentar a seguinte questão: Eu quero uma coisa e Cristo quer outra. Tenho de fazer a escolha.
Creio que o melhor termo para descrever o problema é a palavra controle. Nós nos achamos diante do privilégio de confiar tudo ao controle de Cristo. Quando Jesus se torna o nosso Senhor, por direito, ele passa a ter o controle de cada situação de nossa vida. Nunca mais as rédeas voltarão para nós. Se aparentemente eu controlo alguma coisa, é na posição de servo, não de dono. Ele é o Senhor.
Examinemos novamente o exemplo de Paulo e sua viagem a Bitínia. A questão principal não era a direção que o apóstolo iria tomar. Se fosse Paulo quem houvesse decidido ir para a Macedônia, se o controle da situação não tivesse sido de Cristo, mas, sim, dele, Paulo teria ido à Macedônia, mas os crentes da Ásia não teriam sido abençoados com o ministério de Paulo.
Mas era Jesus Cristo quem controlava a vida de Paulo. E ele fez a escolha acertada, seguindo-se então uma grande bênção. O Espírito Santo fizera Paulo compreender a diferença entre suas próprias ideias e as de Cristo. O velho e autodirigido Saulo fora crucificado; o novo Paulo era movido e inspirado pelo Jesus Cristo que habitava nele.
As pessoas que nos rodeiam ouvem as palavras que dizemos. Veem os atos que praticamos. Elas podem observar para que direção nós vamos. O homem espiritual e o carnal podem dizer as mesmas palavras, fazer as mesmas obras e frequentar alguns dos mesmos lugares. A essência do que cada um deles faz reside na sua condição interior e não somente nas ações externas.
Somente a Palavra santa de Deus pode penetrar em nosso interior e nos mostrar o que procede de nós mesmos e o que vem de Deus. O escritor da carta aos hebreus chamou essa existência autoconsciente de alma, e a outra parte de nossa natureza, a que é sensível a Deus, de espírito. Então ele diz aos crentes: “Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração” (4.12).
Como é que sabemos a diferença entre alma e espírito? Na realidade, é bem simples. Ao ouvirmos a Palavra de Deus, cabe-nos crer nele e obedecer-lhe. Pode ser que não consigamos explicar tudo, mas não precisamos confundir ainda mais as coisas, tentando viver “dos dois lados e no meio também”, de uma vez só.
Existe um hino muito conhecido que fala do segredo, aliás muito simples, do sucesso e da felicidade na vida espiritual: “Crer e observar, tudo quanto ordenar”.
O Senhor nos mostra o que vem de nós mesmos e o que vem dele. E se não tivermos tempo para descobrir a diferença? Se tivermos de tomar uma decisão apressada, ela deve estar em harmonia com nossa fé em Cristo e com nosso amor a Deus e aos homens.
Podemos considerar o velho “eu” morto para o pecado e o novo “eu” vivo para Deus em Cristo Jesus. Então podemos compreender plenamente o significado das palavras de Paulo: “Já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim”.
Harold J. Brokke foi conferencista e membro da Missão Evangélica Betânia nos Estados Unidos. Faleceu em setembro de 2009.