Ele endireitará nossos caminhos
Recentemente, ouvi um jovem pregador falar sobre fé. A mensagem era extremamente positiva, e ele parecia bastante seguro de si mesmo. Gostei dele imediatamente, e fiquei admirado com sua disposição de ministrar para um grupo de pastores de maneira tão ousada, apesar de sua pouca idade. Fiquei fascinado com um comentário. Percebi que ele estava sendo realmente sincero, mas ainda não estou convencido de que sua declaração estivesse correta. Não serei capaz de repeti-la com detalhes, mas tentarei transmitir a ideia básica do que ele disse. Ele nos lembrou de que, enquanto Israel peregrinava no deserto, Deus agiu de um modo bastante incomum:
Durante o dia o Senhor ia adiante deles, numa coluna de nuvem, para guiá-los no caminho, e de noite, numa coluna de fogo, para iluminá-los, e assim podiam caminhar de dia e de noite. A coluna de nuvem não se afastava do povo de dia, nem a coluna de fogo, de noite (Êx 13.21-23).
O jovem pregador nos lembrou que, assim que o povo chegasse à Terra Prometida, aquele direcionamento seria alterado. As colunas desapareceriam e Josué receberia a responsabilidade de guiar o povo através de batalhas e conquistas. A ordem de Deus para Josué foi bastante desafiadora.
“Seja forte e corajoso, porque você conduzirá este povo para herdar a terra que prometi sob juramento aos seus antepassados. Somente seja forte e muito corajoso! Tenha o cuidado de obedecer a toda a lei que o meu servo Moisés lhe ordenou; não se desvie dela, nem para a direita nem para a esquerda, para que você seja bem-sucedido por onde quer que andar. Não deixe de falar as palavras deste Livro da Lei e de meditar nelas de dia e de noite, para que você cumpra fielmente tudo o que nele está escrito. Só então os seus caminhos prosperarão e você será bem-sucedido. Não fui eu que lhe ordenei? Seja forte e corajoso! Não se apavore, nem desanime, pois o Senhor, o seu Deus, estará com você por onde você andar” (Js 1.6-9).
Nosso preletor pareceu indicar que, assim como Israel não precisaria das colunas de nuvem e de fogo, nós também podemos alcançar um ponto na vida em que não precisaremos de sinais específicos vindos de Deus. Agora temos a bênção divina e podemos seguir adiante com confiança, aonde decidirmos ir, e Deus seguirá conosco. Foi como se ele tivesse dito: “No deserto, vocês tinham de confiar no Senhor e segui-lo; agora, na Terra Prometida, Deus é que irá confiar em vocês e segui-los”.
Aquilo me fez lembrar de uma dúvida com a qual luto até hoje: “Quando devo esperar por Deus para que ele me mostre especificamente o que fazer? Quando devo orar e então agir do modo que me parece ser o melhor? Será que devo buscar direcionamento para as questões maiores, mas lidar com os assuntos mais simples sozinho? Ou será que há outra maneira de Deus nos direcionar?”
Na verdade, às vezes espero por uma instrução específica e nada acontece. Ou então tomo uma atitude com base no que já sei, e descubro que meu conhecimento não é suficiente. Em outras ocasiões, dou um passo de fé, guiado por um propósito bíblico em uma palavra específica, e Deus me abençoa. E. Stanley Jones escreveu: “Se não permitimos que Deus nos dê um direcionamento geral para a vida como um todo, não devemos esperar instruções específicas da parte dele”.
Onde está o ponto de equilíbrio? Será que simplesmente “cada caso é um caso e devemos confiar em Deus em qualquer deles”? Percebi que, quando os israelitas seguiram as colunas de nuvem e de fogo, peregrinaram pelo deserto durante 40 anos – o que não era exatamente o caminho reto que Deus nos prometeu! Ficaram andando em círculos até que toda uma geração de pessoas duvidosas morresse. Eles nunca se afastaram da direção clara de Deus, mas esse direcionamento não os levou a lugar nenhum. Era como se Deus estivesse mantendo suas promessas em pausa, aguardando até que os duvidosos tivessem morrido. Ele havia dado chances para que cressem, mas pacientemente permitiu que sofressem a morte natural por terem fracassado em reagir a um desafio que o Senhor desejava que enfrentassem. Tenho esperança e oro para que esse não seja o meu destino, e nem o seu.
Seguindo a Deus, porém com pouca fé
Israel seguia aquelas colunas, mas não tinha muita fé em Deus. Percebo, no “hall da fama da fé” (Hb 11), que a narrativa interrompe quando Israel cruzou o mar Vermelho em terra seca, e retoma quando os muros de Jericó caíram, já na Terra Prometida. Não há nenhuma menção de que o povo tenha demonstrado grande fé enquanto estava no deserto.
Quando Josué foi escolhido para liderar Israel até a terra de Canaã e conquistá-la em favor do povo escolhido de Deus, como ele deveria ser guiado? Ele tinha de demonstrar coragem e tomar decisões ouvindo, meditando e seguindo a Palavra de Deus.
E ele também recebeu um conselheiro.
Então o Senhor disse a Moisés: “Chame Josué, filho de Num, homem em quem está o Espírito, e imponha as mãos sobre ele. Faça-o apresentar-se ao sacerdote Eleazar e a toda a comunidade e o comissione na presença deles. Dê-lhe parte da sua autoridade para que toda a comunidade de Israel lhe obedeça. Ele deverá apresentar-se ao sacerdote Eleazar, que lhe dará diretrizes ao consultar o Urim perante o Senhor. Josué e toda a comunidade dos israelitas seguirão suas instruções quando saírem para a batalha” (Nm 27.18-21).
Josué conhecia seu propósito e sabia que receberia direcionamento claro ao manter-se perto do Senhor, dando ouvidos à sua Palavra.
Em uma ocasião, Josué parou e “leu todas as palavras da lei, a bênção e a maldição, segundo o que está escrito no Livro da Lei. Não houve uma só palavra de tudo o que Moisés tinha ordenado que Josué não lesse para toda a assembleia” (Js 8.34,35).
Em outro episódio, porém, o exército israelita foi ludibriado a fazer um tratado de paz com os gibeonitas, porque “não consultaram o Senhor” (Js 9.14). Isso demonstra que, mesmo quando buscamos cumprir a Palavra escrita de Deus e seus direcionamentos gerais, temos de dar espaço para que o Senhor nos transmita instruções específicas para a jornada.
Quando Josué corajosamente honrou e obedeceu a Deus, alcançou prosperidade e sucesso. Seu compromisso e sua função lhe garantiram o apoio e a lealdade daqueles a quem liderava. De modo contrário aos descrentes que, em meio a reclamações, seguiram Moisés no caminho claramente indicado pelas colunas de nuvem e de fogo, a nova geração de hebreus se submeteu com satisfação a Josué e à sua liderança, dizendo: “Tudo o que você nos ordenar faremos, e aonde quer que nos enviar iremos” (Js 1.16).
A ordem de Deus a Josué – “Tenha o cuidado de obedecer a toda a lei que o meu servo Moisés lhe ordenou; não se desvie dela, nem para a direita nem para a esquerda” – nos remete à sabedoria de Salomão: “Ele endireitará as suas veredas”.
Seguindo por um caminho reto
Os discípulos de nosso Senhor também aprenderam a ser direcionados por Deus. Durante três anos, Jesus serviu como uma coluna de nuvem e de fogo. Eles nunca se preocuparam em buscar direcionamento; simplesmente o seguiam aonde quer que fosse. Quando Jesus partiu para o céu, tudo que os discípulos puderam fazer foi esperar. Foram instruídos a permanecer em Jerusalém até que o Espírito viesse. Quando ele chegou (Aquele que os levaria a toda a verdade), os discípulos apreenderam a seguir as palavras que Jesus lhes havia deixado, confiando nas Escrituras do Antigo Testamento e no Espírito, em busca de direcionamentos específicos. As Escrituras (objetivas) e o Espírito (às vezes subjetivo) eram esses meios de instrução.
Talvez já tenhamos tido nossas “peregrinações do deserto”. Talvez nunca tenhamos descoberto o plano específico de Deus para nós, ou tenhamos sentido que os propósitos dele para nossa vida estão em pausa, ou ainda que fomos desclassificados. Talvez precisemos reconsiderar os atributos de Deus, em quem podemos confiar totalmente. Pelo fato de o Senhor ser bom, ele deseja o melhor para nós. Pelo fato de ser sábio, sabe o que é melhor para nós. Pelo fato de ser poderoso, pode realizar o que é melhor para nós...
E por fim, pelo fato de Deus nos amar como somos, ele se recusa a nos deixar como estamos. O Senhor permite que passemos por experiências difíceis através das quais alcançamos a confiança de que Ele nos dá o que é melhor, para que possamos lhe devolver o melhor de nós – confiança e devoção de todo o nosso coração.
George R. Foster trabalhou 25 anos no Brasil com a Missão Evangélica Betânia. Após sua saída da Missão Betânia, atuou como pastor internacional dos missionários da Bethany Fellowship Missions. É autor de vários livros. Faleceu em 2020.