Podemos confiar em Deus de todo o coração? I

George R. Foster


Em meio a provações e problemas... Quando temos de deixar nossa zona de conforto... Quando precisamos entregar alguma questão nas mãos de Deus... Quando um prazo final se aproxima... Quando estamos pressionados a tomar uma atitude... Quando não há nada louvável a fazer... ou quando simplesmente não há nada a fazer... podemos confiar nele?

A passagem bíblica favorita de muitos cristãos é o texto de Provérbios 3.5,6:


Confie no Senhor de todo o seu coração e não se apoie em seu próprio entendimento; reconheça o Senhor em todos os seus caminhos, e ele endireitará as suas veredas.*


* Todas as referências bíblicas, salvo especificação em contrário, são da Nova Versão Internacional, da Editora Vida.


Eu nem sequer conhecia esses versículos na primeira vez em que coloquei esse ensinamento à prova. Tinha 17 anos e acabara de concluir o ensino médio. Havia recebido o chamado para pregar o evangelho, precisava ir para o seminário, mas não tinha dinheiro.

Todos os dias, eu saía pela cidade em busca de qualquer emprego que pudesse encontrar. Por um mês inteiro, meus esforços não deram resultado. Então, me inscrevi para um teste em um banco, realizei o teste e fui aceito como trainee.

“Você começa segunda-feira de manhã”, foi o que me disseram.

Senti-me aliviado por não ter mais de procurar emprego. E fiquei feliz ao perceber que, naquela mesma semana, poderia frequentar o acampamento anual Red Rock no lago Koronis, que havia me trazido tanta inspiração em anos anteriores. Consegui uma inscrição gratuita oferecendo-me para trabalhar como supervisor infantil.

Os pastores e os líderes do acampamento ficaram satisfeitos em me ver. Sabendo que eu havia concluído o ensino médio, todos me perguntavam:

– O que você vai fazer agora?

– Vou ser pastor, respondia eu, satisfeito.

– Onde vai estudar?, era, invariavelmente, a pergunta seguinte.

Quando descrevia meus planos para a faculdade, todas as pessoas com quem conversava me davam a mesma sugestão:

– O Seminário Asbury, no Kentucky é uma excelente escola de preparação para pastores.

Eu nunca havia ouvido sobre aquela instituição, mas, com base na descrição de todos, parecia maravilhosa.

– Há um casal aqui de Louisville. Talvez eles lhe deem uma carona.

Em pouco tempo, os preparativos já estavam feitos. Alguns dias depois, fiz as malas, despedi-me de parentes e amigos e parti naquela que seria uma incrível aventura. O tempo me mostraria que o Senhor, a quem eu pretendia servir, era digno de minha confiança. Eu levava comigo $35 dólares e uma carta de apresentação de meu antigo pastor, o Rev. Thomas Griffith.

O casal do acampamento, cumprindo a promessa, me levou até Loiusville e me ofereceu um lugar para passar a noite. No dia seguinte, fui de carro com eles até à autoestrada onde eu pegaria carona pelo restante do caminho até uma pequena cidade chamada Wilmore, no coração da região rural do Kentucky.

Precisei de algumas horas para chegar ao meu destino e a última carona que peguei, de Lexington até Wilmore, foi com um motorista de um braço só em um automóvel de câmbio manual. Ele parou para tomar várias cervejas ao longo do percurso e se autodenominava, orgulhoso, “o pintor de mastros de um braço só mais rápido do mundo”. Cheguei à faculdade por volta de 10 da manhã e senti-me consolado ao ver a cruz iluminada no topo da caixa d’água. Um aluno me emprestou alguns lençóis e eu pude dormir num dos quartos do dormitório da faculdade.

Na manhã seguinte, levantei cedo, li a Bíblia, orei e segui pela rua principal de Wilmore até o Seminário Asbury, uma instituição irmã, para levar minha carta de apresentação ao Rev. Bob Fraley, diretor de desenvolvimento do seminário. Quando me apresentei, ele me cumprimentou calorosamente com um aperto de mão e entreguei-lhe a carta. Ele a abriu imediatamente, leu-a bem rápido e pediu à sua assistente, a Sra. Dorothy Rose, para que saísse da sala com ele.

Obviamente, estavam debatendo sobre o que fazer comigo, mas o Sr. Fraley foi bastante amigável e procurou me deixar à vontade. A Sra. Rose sorriu e disse:

“Você pode ir até minha casa para o almoço.”

Ela me ensinou o caminho e acrescentou:

“Espere na varanda até ao meio-dia quando meu filho, Danny, chega em casa. Diga a ele o motivo de você estar lá. Eu chegarei alguns minutos depois para preparar o almoço para nós.”

Fiz como ela me instruíra e logo um jovem de dezoito anos muito bem apessoado subiu os degraus e se assentou ao meu lado no balanço da varanda. Começamos a conversar e descobrimos que tínhamos muitos interesses em comum. Em pouco tempo, já éramos grandes amigos. Mais tarde, a irmã dele, Marilyn, se juntou a nós para o almoço. O pai, o Dr. Delbert Rose, professor do seminário e teólogo, estava viajando, pregando em vários cultos dos acampamentos do Sul. O filho mais novo, David, fora visitar alguns amigos.

Depois do almoço, a Sra. Rose conversou com Danny e Marilyn e juntos me deram a notícia de que eu poderia dormir no quarto de David enquanto ele estivesse ausente. Foram dias maravilhosos! Não era apenas uma questão de hospitalidade sulista, mas, sim, cristãos exemplares demonstrando amor a um jovem necessitado.

Poderia escrever um livro sobre a maneira como as pessoas me ajudaram e o modo como Deus me sustentou durante meu primeiro ano na Faculdade Asbury.


  • Ajudei a preparar os acampamentos de verão em Indiana e ganhei uma bolsa de estudos de cada uma das lideranças.
  • Fui convidado para cuidar de um maravilhoso casal de idosos cristãos, com cerca de 90 anos de idade, em troca de me hospedar na casa deles. Adorava as orações que faziam por mim.
  • Realizei algumas tarefas para uma professora de Inglês, e ela me deu uma bolsa de estudos.
  • Consegui o cargo estudantil com melhor salário no campus, dirigindo o caminhão de lixo.
  • Quando quebrei meus óculos e não tinha dinheiro para comprar outros, recebi uma carta de minha avó juntamente com uma nota de $5 dólares. No dia seguinte, encontrei um envelope na caixa de correio com mais $5 dólares. Alguns dias depois, descobri um terceiro envelope endereçado a mim com $20 dólares dentro. Quando fui buscar meus óculos, fiquei sabendo que o preço era exatamente $30 dólares.
  • Quando concluí aquele ano, sabia que tinha de voltar para Minneapolis e continuar meus estudos, além de ajudar com algumas questões familiares. Segui até à secretaria para encerrar minha inscrição, e disseram: “Você não pode ir embora ainda, temos contas para acertar”. Eu disse que pensava ter quitado todas as despesas. Eles confirmaram que isso estava correto: “Você não nos deve nada. Nós é que devemos dinheiro a você”.

Estava aprendendo a confiar em Deus para suprir minhas necessidades. Em retrospecto, posso ver a mão de Bob Fraley por trás de muitas das coisas boas que me aconteceram, e sempre serei grato a ele e à sua esposa, Leola, à família Delbert Rose e a muitas outras pessoas. No entanto, isso não enfraquece minha convicção de que era Deus que estava suprindo minhas necessidades. Quando li Provérbios 3.5,6 pela primeira vez, já sabia que aquelas palavras eram verdadeiras e que estavam se tornando realidade em minha vida.

Agora, mais de 50 anos depois, lembro-me dos meus 25 anos de trabalho no Brasil e de muitos outros anos viajando pelo mundo pastoreando missionários. Sinto-me pronto para embarcar em novas jornadas, porque o Senhor sempre tem se mostrado digno de minha confiança.

Entretanto, dizer que confio em Deus por causa do que sei a respeito dele, ou por causa de minhas experiências com ele, não significa que seja fácil confiar diante das circunstâncias que enfrento atualmente, ou das que ainda possam se apresentar. Sei que ele é totalmente digno de minha confiança, mas será que sou capaz de superar a ansiedade e realmente entregar minha vida totalmente a ele? Mesmo depois de todos esses anos, continuo tendo de dar um passo de fé.


Por que Deus é digno de confiança?

Desejo apresentar um pouco da minha compreensão a respeito dessa característica divina:

Deus é bom. Ele deseja o melhor para nós, e quer nos abençoar com paz e esperança (Jr 29.11).

Deus é sábio. Ele sabe o que é melhor para nós. Os caminhos dele são mais altos do que os nossos. Ele enxerga o que não conseguimos ver e sabe de coisas que nos estão encobertas (Is 55.9).

Deus é capaz. Ele pode realizar o que é melhor para nós. Nada é impossível para ele. Nada! (Jr 32.17.)

Deus é misericordioso. Mesmo quando cometemos erros ou pecados, ele está sempre pronto a nos perdoar e a nos restaurar (Sl 103.3).

Deus é santo. Ele nos chama a sermos santos exatamente como ele. O Senhor não recompensa o mal nem atitudes erradas (1 Pe 1.16).

Deus é fiel. Ele estabelece alianças e nos promete o que é melhor para nós, à medida que preservamos nossa aliança com ele. Ele zela por sua palavra, para cumpri-la (Jr 1.12).

Deus é verdadeiro. Não existe nem sequer sombra de engano nele. Jesus é o caminho, a verdade e a vida (Jo 14.5).

Deus é justo. A vida pode não ser justa, e às vezes não trata a todos igualmente, mas os caminhos e as obras de Deus são perfeitos (Dt 32.4.)


Poderíamos escrever muito mais. Esse é apenas um resumo dos atributos que nos lembram de que Deus é total e eternamente digno da confiança que depositamos nele. Por causa dessa característica divina, Provérbios 3.5,6 funciona como um lembrete para mim. Devo afirmar que – apesar de minha fé já ter sido testada muitas vezes, e apesar de eu ter experimentado algumas situações que poderiam facilmente tirar meu estímulo – constantemente repito as seguintes palavras: “Senhor, deposito minha confiança em ti!”


É importantíssimo confiar!

Repetir essas palavras reforça minha confiança, renova minha esperança e aumenta minha sensação de bem-estar. E fico satisfeito em afirmar que – mais do que nunca – essa simples frase expressa o que realmente sinto! A certeza de que sempre posso confiar no Senhor é renovada constantemente. Por isso aceito obedecer-lhe em circunstâncias difíceis.

Ele me ensina a confiar nele colocando-me em missões onde essa se torna minha única opção viável. E Deus me faz passar por experiências que provam que ele está comigo o tempo todo. Todas as vezes, o Senhor me coloca diante de situações difíceis; é como se pudesse ouvi-lo declarar: “Eu disse que era capaz de ajudá-lo!”

Perceba o leitor que eu afirmei: “Ele me faz passar por experiências”. Eu não disse: “Ele me coloca em experiências...” Isso faz grande diferença! É como se Deus afirmasse: “Você enfrentou sofrimento e angústias, mas tudo correu bem. Eu estava com você! Eu estou com você! Sempre estarei com você! E você aprendeu mais alguma coisa”. Sinto-me seguro na presença de Deus e tenho certeza de que lucrei muito por ter passado por esses testes.


Não aja apenas com base no que você sabe!

Basicamente, sou o tipo de pessoa que se deixa levar por ideias – não sou de raciocinar demais e não me preocupo com detalhes. Adoro conceitos, palavras e ação. Gosto de descobrir como os princípios bíblicos se aplicam na vida real. Às vezes, porém, começo a achar que já entendi a situação e acabo me fechando para outros pontos de vista.

Detesto trilhar um caminho errado ou adotar uma prática ou política que difere do meu modo de perceber as situações. Portanto, juntamente com a necessidade de confiar no Senhor, também tenho de aprender a não “me apoiar em meu próprio entendimento”. Será que isso também significa que preciso demonstrar mais fé na compreensão que Deus me traz através de outras pessoas?

Não posso negar que o Senhor tem me ensinado muitas lições preciosas, mas sei que não posso desenvolver uma atitude arrogante e confiar em meu acúmulo de conhecimento ou experiência. Tenho de confiar apenas no Senhor. Os desafios que enfrentamos são muito maiores do que nossa capacidade – não importando quantas vezes tenhamos obtido sucesso em lidar com situações parecidas.

O sucesso não se destina a nos fornecer a confiança errônea de que agora estamos aptos a enfrentar qualquer desafio que se coloque diante de nós; eles servem para nos lembrar de que podemos e devemos confiar em Deus nesta e em qualquer circunstância, como fizemos anteriormente.

Por acaso essa é uma lição importante a aprender? Deve ser, porque consta do provérbio seguinte: “Não seja sábio aos seus próprios olhos” (Pv 3.7).


Reconheça que ele é sábio!

À medida que progredimos em nossa caminhada com Deus, ele se torna nosso ponto de referência; tudo acaba se referindo a ele. Ele também se torna o ponto central; tudo gira ao redor dele. E torna-se também nosso foco; vemos as coisas claramente quando enxergamos através dos olhos dele. Ele se torna um lugar seguro; tudo está tranquilo quando estamos com ele. Ele se torna nosso objetivo; tudo é feito para agradá-lo. E se torna também nosso companheiro; realizamos tudo junto com ele. Ele se torna nossa força; realizamos tudo através da capacitação que nos concede.

Não acredito que o objetivo de Deus em nos capacitar seja nos tornar independentes dele. Em vez disso, acho que o Senhor quer estabelecer uma parceria conosco. Embora ele seja soberano (e nós, não), Deus nos convida a trabalhar juntamente com ele para alcançarmos seus propósitos. Como vasos de barro, não reclamamos com o oleiro sábio e habilidoso a respeito da maneira como nos fez. Em vez disso, buscamos descobrir qual o propósito específico para o qual nos criou e nos deu talentos, e então nos entregamos a esse propósito.

Sim, Deus tem um plano para nós. Ele nos criou para alcançarmos objetivos. Há alvos aos quais ele nos direciona e chamados em que ele precisa que dependamos dele. Jesus disse: “Sem mim vocês não podem fazer coisa alguma”. E Paulo, por sua vez, afirmou: “Tudo posso naquele que me fortalece”. O Senhor nos criou para cumprirmos um propósito que só pode ser alcançado por nós mesmos, enquanto confiamos e trabalhamos em parceria com ele!

ComunhãoOraçãoVida com deus

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