Myrian Talitha Lin
Uma das facetas da vida cristã mais comentada nos círculos evangélicos é a oração. Todos reconhecemos, sem sombra de dúvida, que nossa grande necessidade é orar. Parece que em nossos ouvidos – e até em nosso subconsciente – está sempre ecoando a orientação do apóstolo Paulo: “Orai sem cessar” (1 Ts 5.17). Por que, então, oramos tão pouco? Por que nossos líderes constantemente precisam nos conclamar a orar mais? Por que nossas reuniões de oração, como atestam alguns, são o culto de menor frequência nas igrejas?
É possível que existam várias respostas para essas perguntas. Gostaria de examinar aqui uma delas.
Uma das razões por que oramos pouco, parece-me, é que nos deixamos esmorecer. Orar exige luta, perseverança, disciplina, e muitos de nós não estamos nos dispondo a lutar e perseverar. Às vezes começamos a orar por determinada necessidade, e como não recebemos imediatamente a resposta da petição, passamos a achar que Deus não vai nos atender. Então desanimamos e paramos.
Se examinarmos bem a Palavra de Deus, veremos que essa atitude não é correta. Embora a Bíblia esteja cheia de apelos para orarmos, isso não significa que Deus sempre irá nos atender imediatamente e da forma como queremos. Há situações em que será preciso perseverar em oração durante algum tempo antes de recebermos a resposta. É verdade que certos tipos de oração, pela própria natureza da petição, necessitam de uma resposta imediata. Nesses casos, a resposta – ainda assim segundo a vontade do Pai – poderá vir logo.
Temos visto, porém, que essa não é a regra geral. Nem sempre a nossa petição é atendida de imediato. É que certamente existem condições espirituais que desconhecemos e que precisam ser resolvidas para que depois recebamos a bênção que pedimos a Deus naquele momento.
Um exemplo disso é o episódio narrado em Daniel 10.2-14. O profeta ficou orando por seu povo durante três semanas. E Deus enviou alguém com a resposta. Mas o mensageiro divino recebeu resistência do “príncipe” da Pérsia, e não pôde chegar ao destino imediatamente. Mas, tão logo ele obteve vitória sobre o adversário, a resposta chegou.
Outro fator que retarda a resposta é a possibilidade de Deus estar utilizando a situação ou problema, cuja solução pedimos, para nos disciplinar, para falar ao nosso coração, para remover escórias da nossa vida. Se for esse o caso, será preciso que esse problema ou dificuldade complete, por assim dizer, sua obra em nós, e só então será removido.
Temos ilustrações disso na história do povo de Israel. Todas as vezes que eles se entregavam à idolatria, Deus deixava que algum outro povo os dominasse e escravizasse. Oprimidos, eles clamavam a Deus pedindo libertação. E o que Deus dizia? “Tirai dentre vós os deuses estranhos” (1 Sm 7.3 e outros).
Há ocasiões, também, em que Deus, na sua soberania, deseja pôr nossa fé à prova. Então parece demorado em nos atender. Ele conhece nosso coração. Conhece a extensão da nossa confiança nele. Mas deseja que fortaleçamos nossa fé, forçando-nos a exercitá-la. Talvez achemos que temos uma fé forte, quando na verdade ela é fraca. E a prova disso é que, se a resposta tarda, paramos de orar desalentados. Nossa fé não resiste a uma espera. Portanto temos de aprender a permanecer em oração para que, exercitando-a, ela se fortaleça. Perseverando em oração, mesmo quando a resposta nos parece demorada, estamos dando prova de que confiamos na fidelidade de Deus, de que cremos em sua Palavra.
Persistir em oração é dar demonstração de que confiamos naquele a quem oramos. Se não crêssemos no caráter dele, pararíamos de orar diante da demora.
Suponhamos que alguém solicite um benefício a uma autoridade do governo, que sabe ser pessoa corrupta e sem caráter. Se for atendido, muito bem. Mas se não for atendido de imediato, aquele cidadão irá esmorecer pensando consigo:
“Esse homem é um desonesto, sem palavra, e não vai mesmo atender ao meu pedido.”
Contudo, em hipótese alguma, podemos ter semelhante atitude para com Deus. Em relação a ele, nosso pensamento será exatamente o oposto, pois sabemos que ele é santo, justo e nos ama. Portanto o Pai nos dará aquilo que for para o nosso bem. Entretanto, se pararmos de orar, estaremos demonstrando o contrário: mostramos que o vemos quase como um governante desinteressado, a quem não temos ânimo de pedir nada.
É disso que Jesus está falando em Lucas 18.1-8. Nesse texto, ele narra a história de uma viúva que todos os dias importunava certo juiz para que julgasse sua causa contra seu adversário. Como fosse viúva, isto é, pobre e sem prestígio, o juiz não se importava com o problema dela. Se ele fosse temente a Deus, talvez o fizesse por temer o Senhor. Mas diz o texto que não era. Assim não deu solução à demanda da pobre mulher. Contudo ela tanto o importunou que um dia ele foi “vencido pelo cansaço”, e atendeu ao seu pedido. E Jesus conclui ensinando que, se aquele juiz, que era ímpio, atendeu à viúva, quanto mais Deus, que é bom, atenderá àqueles que a ele clamam dia e noite. Ele fará justiça, sim, embora pareça demorado.
Também não se trata de “vencê-lo pelo cansaço”. Absolutamente, não. Deus é soberano, e sabe qual o melhor momento para atender à nossa petição.
É importante notar que o Senhor diz que ele parece demorado. É do nosso ponto de vista que ele parece demorado. Temos a tendência de querer soluções imediatas, alívio rápido – como sugerem os comerciais de analgésicos. A verdade, porém, é que, do ponto de vista de Deus, a solução nunca é demorada. Chega sempre na hora certa, na hora determinada por ele, que é a melhor para nós. Contudo, se esmorecermos e pararmos de orar, achando que ele está demorando, frustramos sua operação em nossa vida. Se não insistimos, se não persistimos em oração, impedimos que ele nos atenda. É o que Jesus ensina nessa passagem.
Tenho para mim que nossa afirmação de fé em Deus – a confiança que demonstramos ao perseverar – é a via legal pela qual ele pode atender nossas orações. Por ocasião da queda do homem, este rejeitou a Deus, procurando viver independente dele. Agora precisa expressar voluntariamente que confia em sua Palavra. Quando esmorecemos em oração e interrompemos a petição, obstruímos o caminho pelo qual a bênção virá.
As causas do esmorecimento
Uma das razões por que paramos de orar é que não exercitamos a disciplina de persistir. Mas isso é o que Jesus está dizendo aí; ele ordena que sejamos persistentes. Então podemos, sim, tomar a decisão de perseverar, de continuar com a petição no coração e nos lábios.
Somos tentados a esmorecer também quando nos esquecemos de que o poder de Deus é muito superior ao problema ou situação pelo que oramos. Precisamos estar com os olhos sempre voltados para Deus e para seu amor por nós, e nunca fixos no problema.
Ainda outro fator que causa esmorecimento em oração são os dardos de dúvida que o inimigo lança contra nós. Quantas vezes, ao orar, somos invadidos por pensamentos negativos?
– Ah, acho que Deus não vai me atender, não.
Se nossa petição estiver em consonância com a vontade dele, nesses momentos precisamos erguer o escudo da fé (Ef 6.16) e aparar o dardo de dúvida com uma afirmação de confiança na Palavra de Deus.
– Não é verdade! Deus me ama e ouve o clamor dos que o buscam.
– A Bíblia diz: “Pedi e dar-se-vos-á”, e eu creio nela.
Rebatendo os dardos de dúvida com uma afirmação de fé na Palavra, fortalecemos nossa fé, pois é no combate que ela se torna mais forte e vigorosa. Não podemos, de forma alguma, dar acolhida às dúvidas. O apóstolo Tiago também fala disso: “Peça-a, porém, com fé, em nada duvidando” (1.6).
Quando Deus parece demorado e mesmo assim continuamos orando, isto é, afirmando nossa confiança nele, fazemos uma confissão de fé na Palavra, exercitamos a fé, e ela se fortalece.
Meu irmão, precisamos orar sem esmorecer. É assim que demonstramos confiança em nosso amado Pai celestial: crendo nele a despeito de uma demora aparente.
Se Deus parece demorado, vamos continuar orando. Desse modo gozaremos de uma doce e maravilhosa comunhão com ele, que muitas vezes é infinitamente superior à própria bênção que buscamos.