O Segredo de Envelhecer com Alegria
Nedra Dugan
– Meu rosto agora está parecendo uma cara de cavalo, disse calmamente a minha mãe – que já tem 92 anos –, conversando comigo ao telefone.
– Por que está dizendo isso? indaguei.
– Ah, outro dia, eu estava me olhando no espelho e vi que minha testa está muito grande. E os cantos da minha boca estão lá atrás, como a do cavalo!
Caímos na risada.
Comparando minha idade com os 92 anos dela, reconheço que sou até jovem. Entretanto, na semana passada, também tive uma experiência parecida diante do espelho. Estava sentada na cadeira giratória do salão, olhando o reflexo da moça que cortava meu cabelo. Admirava sua pele lisinha e os cabelos negros, quando, de repente, vi uma mulher de pele flácida e olhar cansado a me fitar no espelho. Por uma fração de segundo, fiquei a me perguntar de onde havia surgido aquela figura. Afinal me dei conta de que era eu mesma! (Ah, e realmente havia uma leve semelhança com a cara de um cavalo!) Senti um forte abalo e fiquei um pouco desalentada.
Muitas vezes, tenho me perguntado como é que a gente pode vir a aceitar bem a ideia do envelhecimento. Mas, graças a Deus, o apóstolo Paulo vem em nosso socorro em 2 Coríntios 4.16-18. Dirigindo-se a cristãos, ele diz: “Por isso, não desanimamos...” (Gosto demais disso!) Aparentemente, Paulo sabia como era difícil levantar de manhã, olhar-se no espelho e levar um susto. E talvez também, vez por outra, passasse pelo constrangimento de não se lembrar do nome de seu melhor amigo. Trata-se de um processo que ninguém pode reverter – nem a mais moderna tecnologia, nem o mais habilidoso cirurgião plástico, nem mesmo o apóstolo Paulo.
Parece que, de fato, temos boas razões para ficarmos desanimados. Entretanto, embora não possamos alterar o processo, existe algo que podemos fazer. Para resolver o problema, podemos passar a usar o que chamo de “óculos celestiais”. Com eles, iremos enxergar o envelhecimento do ponto de vista de Deus. Vamos dar uma espiada nisso?
- Nosso corpo é apenas uma moradia provisória para o tempo em estivermos aqui na terra. Já faz alguns anos que enxerguei esse fato nitidamente. Isso aconteceu num dia em que nossa família foi a um asilo de idosos para visitar um tio do meu marido, chamado Art, que completava 95 anos. Embora Art estivesse confinado a uma cadeira de rodas, achava-se bem lúcido e apreciou bastante a nossa visita. Ficamos ali algum tempo, mas, antes de irmos embora, resolvemos cantar um pouco, já que havia alguns dos internos ali, na ampla sala de visitas da casa. E, instantes depois, um silencioso auditório, composto de rostos enrugados, cabelos brancos e corpos disformes, nos ouvia atentamente. Naquele momento, tive o claro entendimento de uma verdade. O que via à minha frente não eram simplesmente algumas pessoas fracas e envelhecidas, mas umas frágeis “cascas”, dentro das quais se achava o verdadeiro ser. E essa fragilidade das cascas impedia que aquele ser se expressasse como deveria.
Então, irmãos, quando virmos na televisão aquelas modelos de corpo escultural nos oferecendo cremes e tratamentos “mágicos” para parecermos mais jovens, vamos nos lembrar de que isso não passa de uma tentativa de “dar uma nova demão de tinta” em uma casa velha.
- O que acontece numa parte do nosso ser afeta as outras. O ser humano não é compartimentado, como se fosse composto de três partes distintas: corpo, alma e espírito; não. Tampouco essas partes se acham “juntadas” de uma forma meio misteriosa, que não nos deixa ver onde termina uma e começa a outra. A verdade é que o que acontece em nosso espírito afeta o corpo. Nossa alma, por seu lado, também exerce influência sobre o espírito, e assim por diante.
Certa vez, um professor de história nos falou sobre uma experiência realizada por uma turma da escola. Os alunos escolheram um dos colegas – sem que este o soubesse – e todos, de forma bem natural, começaram a lhe perguntar:
“Você está doente? Parece que não está bem!”
Depois que vários deles lhe fizeram a mesma indagação, o estudante se levantou da carteira e foi perguntar ao professor se poderia ir embora para casa, pois não estava se sentindo bem.
A Bíblia diz o seguinte: “O coração alegre é bom remédio, mas o espírito abatido faz secar os ossos” (Pv 17.22). Isso significa que uma mente sã e um coração alegre podem ser ótimos antídotos para enfermidades, transmitindo energia a um corpo que está envelhecendo.
- O que é visível desaparecerá! E aqui não me refiro a um ilusionismo criado por um mágico, não. Falo de uma verdade bíblica. “Porque as [coisas] que se veem são temporais, e as que se não veem são eternas” (2 Co 4.18). Portanto, o que é invisível é superior ao visível.
Na parede da frente do salão de cultos da escola bíblica onde estudei havia uma faixa com os dizeres: Tenha Sempre em Mente os Valores Eternos. Para vivermos assim – tendo sempre em mente os valores eternos – temos de fazer um esforço consciente nesse sentido. Uma prática que nos ajudaria muito seria ler e reler textos bíblicos como o de Tiago 4.14, em que o autor compara nossa existência terrena a uma “neblina que aparece por instante e logo se dissipa”. Para mim, basta dar uma olhada nas fotografias que temos nos porta-retratos em casa, para logo me lembrar de que a vida está passando muito depressa. Meus queridos filhinhos, que carreguei nos braços anos atrás, agora carregam os seus. Como foi que meus filhos cresceram assim tão rápido? Acredito que todos os pais façam essa pergunta.
Em vista disso, precisamos aprender a segurar nossos bens terrenos com a mão aberta; jamais com o punho cerrado. Lembro-me de uma ocasião em que meu pai, que era professor de piano, comprou um piano de meia calda novinho em folha. Para nossa família, que sempre havia levado uma vida bem regrada, foi uma compra e tanto. A madeira de cor castanho, bem envernizada, brilhava feito vidro. As teclas, finamente manufaturadas, quase “pediam” para ser tocadas. Todavia papai me disse:
“Se um dia houver uma enchente aqui e o rio levar o piano correnteza abaixo, não tem problema!”
Ele “segurava” aquele instrumento com as mãos abertas.
- O Espírito Santo é o grande renovador. O texto diz: “Mesmo que o nosso homem exterior se corrompa, contudo, o nosso homem interior se renova de dia em dia” (2 Co 4.16 – grifo meu). Parece que o apóstolo Paulo está dizendo:
“Não fique desanimado por causa de algumas rugas ou mesmo de um rosto parecido com a cara de um cavalo. Há algo muito especial ocorrendo no fundo do seu ser. Nosso verdadeiro ‘eu’ não está envelhecendo. (Oba!) A lei da gravidade não tem nenhum poder sobre nós.”
No entanto, se isso é verdade, por que o apóstolo afirma que nosso homem interior, que é invisível, precisa ser renovado? (Boa pergunta!) Acredito que ele está dando a entender que, se nós nos desanimarmos por causa do processo de envelhecimento, iremos nos tornar cristãos entristecidos – pessoas queixosas, sem alegria. Iremos desfiar uma longa lista de dores e incômodos, em vez de estar sempre celebrando a Deus com “vozes de júbilo”, como ensina o salmista. Na verdade, diz Paulo, não precisamos ser assim, pois o Espírito Santo, com seu constante poder renovador, está nos restaurando diariamente. Embora estejamos sendo continuamente bombardeados com o sistema de valores do mundo, que “adora” a beleza e a juventude, dia após dia, dentro desta nossa frágil casca, está ocorrendo um processo invisível e em sentido inverso.
Então, se queremos manter o equilíbrio espiritual, temos de usar sempre os óculos celestiais. Não podemos removê-los nem por um minuto. E lembremo-nos de que os sofrimentos que possamos enfrentar aqui nesta terra duram só “um momento”, se comparados com a eternidade atemporal. E eles produzem “para nós eterno peso de glória”.
Embora, atualmente, a minha mãe, de 92 anos, esteja um pouco mais encurvada ao caminhar, seu equilíbrio espiritual está cem por cento. Raramente se queixa de dores e desconfortos. E, apesar de ter achado seu rosto parecido com a cara de um cavalo, fez um comentário muito positivo quando encerramos a conversa ao telefone. Disse ela:
“Estou sempre procurando relembrar a mim mesma aquilo que sou em Cristo!”
Parece-me que ela está encarando a vida com os “óculos celestiais”, não é verdade?