“Eu estou com vocês! Não temam!”
George R. Foster
“Portanto, irmãos, rogo-lhes pelas misericórdias de Deus...” (Rm 12.1.)
Um dos maiores obstáculos que nós, os crentes, talvez encontremos para colocar nossa vida totalmente nas mãos de Deus é o temor do que possa acontecer em consequência dessa entrega plena. Para onde será que ele vai nos enviar? O que ele vai querer que façamos?
O evangelista Mark Rutland costumava pregar sobre o fato de que temos de consagrar nossa vida a Deus e realizar sua vontade. Posteriormente, ele comentou sobre o efeito que suas mensagens causaram em uma senhora que lhe fez forte resistência. Depois de ouvi-lo durante vários dias, ela lhe revelou que não iria fazer essa entrega total ao Senhor.
A mulher argumentou que, quando era estudante, todos os alunos que tiravam notas baixas tomavam bomba e tinham de repetir o ano. Já aqueles que obtinham apenas os pontos suficientes para serem aprovados seguiam com a turma para a série seguinte. Por último, os que conseguiam as notas máximas sempre se tornavam alvo de grandes “cobranças”. Todo mundo abrigava elevadas expectativas em relação a eles. Sempre se esperava que eles produzissem mais e que suas provas e trabalhos fossem de alto nível.
No reino de Deus, continuou aquela senhora, acontece o mesmo. Os que tiram notas baixas, vão para o inferno. Os que se mantêm no nível da maioria e obtêm apenas os pontos necessários para a aprovação vão para o céu. Já os que ganham as maiores notas tornam-se missionários e acabam indo para a Índia. Então ela resolveu que iria ficar com o grupo do meio.
A verdade é que muitos de nós formam uma imagem meio negativa de Deus, que nos impede de confiar nele plenamente. Somos como aqueles “que por causa da incredulidade não puderam entrar” (Hb 3.19). É provável que tenhamos esse problema porque nunca nos demos o trabalho de procurar saber como Deus realmente é. Ou pode ser ainda que tenhamos vivenciado uma situação dolorosa, pela qual culpamos o Senhor.
Tudo sob controle?
A frase “Deus está no controle de tudo” pode nos conferir uma sensação de conforto em alguns momentos. Entretanto, essa ideia talvez nos leve a atribuir a Deus a culpa por tudo de ruim que nos sobrevenha. E é possível até que pensemos que as circunstâncias negativas superam as positivas. Eu, pessoalmente, acredito que alguns acontecimentos se acham fora de controle porque as pessoas também estão. É claro que creio na soberania de Deus e sei que ele pode simplesmente reverter a situação. Contudo, muitas vezes, ele não reverte.
Nós só teremos uma ordem absoluta na Terra depois que “o reino do mundo se tornou de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará para todo o sempre” (Ap 11.15). Mas, enquanto isso não acontecer, Deus continuará apresentando-nos o seu reino, mas não necessariamente impondo-o a nós. A Bíblia fala que um dia Cristo estabelecerá seu reino eterno. Aí a ordem será restaurada. Todo joelho se dobrará e toda língua confessará que Jesus Cristo é Senhor (Fp 2.10,11). Nessa ocasião, ele vai “fazer convergir em Cristo todas as coisas, celestiais ou terrenas” (Ef 1.10).
Por vezes, pensamos: “Se Deus me amasse mesmo, não permitiria que esse mal me sobreviesse”. E ainda é possível também que relutemos contra tal pensamento com base em um versículo bíblico bastante conhecido.
“Sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam, dos que foram chamados de acordo com o seu propósito.” (Rm 8.28.)
Por outro lado, talvez tenhamos uma compreensão meio falha desse texto. Pode ser que pensemos que ele quer dizer, por exemplo, que sempre que Deus permite que passemos por uma circunstância negativa, ele irá proporcionar-nos algo de bom para compensar o mal. Afinal, concluímos, Deus tem de ser justo. Ele deve providenciar para que tenhamos experiências positivas, como todo mundo. Certa vez, um amigo comentou que acreditava que Deus nunca iria permitir que ele fizesse um negócio que tivesse resultados negativos. Entretanto eu creio que nós já conhecemos suficientemente o reino de Deus para entender melhor essas coisas.
O fato é que nós só compreenderemos claramente o verso 28 depois que o analisarmos no contexto do 29.
“Pois aqueles que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos.”
O propósito de Deus é formar em nós a imagem de Jesus. E, para isso, ele pode levar-nos a experimentar perdas, provações, tormentas e adversidades, bem como momentos de intimidade com ele, ou de grande gozo ou de um incrível sucesso. E nunca nos abandona, mesmo quando nos achamos no meio de nossas maiores lutas. O Senhor está conosco inclusive nas horas em que nosso sofrimento e angústia são tão fortes que pensamos que ele nos deixou. Quando estamos enfrentando problemas, fica muito difícil entender certos fatos. É por isso que precisamos aprender a confiar nele antes que nos sobrevenham as situações negativas, durante o processo e depois que elas passam.
O que supomos que sentiu José, o noivo de Maria, ao ficar sabendo que a jovem com quem iria se casar estava grávida? E ele sabia que não era o pai da criança. O que sentiria um homem que estava se casando com uma jovenzinha cuja explicação para sua gravidez era de que o Espírito Santo descera sobre ela? Você, leitor, iria querer uma explicação convincente? José quis e recebeu. Pensemos no que o anjo disse para ele.
“Não tema receber Maria.”
“Você deverá dar-lhe o nome de Jesus.”
“E o chamarão Emanuel.”
“A essa criança (e talvez ele até acrescentasse: ‘A quem terei a desgraça e a grande honra de criar’) você deverá dar-lhe o nome de Jesus [o Salvador] porque ele salvará o seu povo dos seus pecados. E o chamarão Emanuel [Deus conosco], pois é isso que eles verão.”
Eu estou com você. Não tema!
Emanuel – que nome maravilhoso! Deus conosco! Deus se encarnou na Pessoa de Jesus. Ele andou onde nós andamos. Encarou o que nós encaramos. Sentiu o que nós sentimos. Juntou sua divindade com nossa condição humana, salvando-nos de nossos pecados.
Estas duas frases: “Eu estou com você” e “Não tema!” aparecem lado a lado na Bíblia, inúmeras vezes. Já ouvi alguém comentar que a expressão “Não tema!”, ou suas variações, ocorre 365 vezes nas Escrituras, uma para cada dia do ano. Aliás, é a ordenança que encontramos com mais frequência na Palavra de Deus. Deus a dirigiu a várias pessoas de formas diversas:
- Para Isaque: “Não tema, porque estou com você”.
- Para Jacó: “Estou com você e cuidarei de você aonde quer que vá”.
- Para Josué: “Seja forte e corajoso, porque você conduzirá este povo para herdar a terra que prometi sob juramento aos seus antepassados”.
- Para Israel: “Por isso não tema, pois estou com você; não tenha medo, pois sou o seu Deus. Eu o fortalecerei e o ajudarei; e o segurarei com a minha mão vitoriosa... Quando você atravessar as águas, eu estarei com você; quando você atravessar os rios, eles não o encobrirão. Quando você andar através do fogo, não se queimará; as chamas não o deixarão em brasas”.
- Para Salomão: “Não tenha medo nem desanime, pois Deus, o Senhor, o meu Deus, está com você”.
- Para Jeremias: “A todos a quem eu o enviar, você irá e dirá tudo o que eu lhe ordenar. Não tenha medo deles, pois eu estou com você para protegê-lo”.
- Para os discípulos: “Foi-me dada toda autoridade nos céus e na terra. Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações... E eu estarei sempre com vocês, até o fim dos tempos”.
- Para o apóstolo Paulo: “Não tenha medo, continue falando e não fique calado, pois estou com você”.
- Para os crentes de todas as partes: “Nunca o deixarei, nunca o abandonarei. Podemos, pois, dizer com confiança: O Senhor é o meu ajudador, não temerei. O que me podem fazer os homens?”
O rei Davi compreendeu essa verdade
Quando Saul ficou desqualificado para continuar reinando em Israel, o profeta Samuel ungiu Davi, um jovem corajoso, para assumir o lugar daquele. Contudo, antes que o moço fosse coroado, passou por terríveis provações. Durante vários anos, teve de viver escondendo-se de Saul que, muito rancoroso, fazia tudo ao seu alcance para matá-lo.
Davi poderia ter atacado Saul e, assim, teria encurtado o caminho para chegar ao trono. Não o fez, porém, por causa de um fator complicador – Deus dera ao povo esta ordenança: “Não toquem no ungido do Senhor”.
Embora o jovem nunca tivesse cometido nenhum mal contra Saul, foi obrigado a viver como um fugitivo. Dormia em cavernas. Estava sempre se mudando de um lugar para outro. Constantemente evitava um enfrentamento com aquele rei que ele deveria substituir por designação divina. Apesar de o perigo estar sempre por perto, ele compôs o salmo mais famoso. E bem no centro desse hino, encontramos as palavras: “Mesmo quando eu andar por um vale de trevas e morte, não temerei perigo algum, porque tu estás comigo...” (Sl 23.4.)
Servos relutantes e seus temores
Muitas das pessoas que Deus escolheu e a quem deu tarefas especiais tiveram de superar temores e outros obstáculos. Moisés, por exemplo, argumentou que não era eloquente. Gideão se queixou, dizendo que era o menor da tribo mais fraca de Israel. Já Elias afirmou: “Sou o único que sobrou, e agora também estão procurando matar-me”. O profeta Isaías se lastimava de ser “um homem de lábios impuros”. Jeremias alegou que era muito novo. Jonas, ao ser chamado, fugiu, contudo não teve como escapar de Deus. E a resposta do Senhor para todos eles foi: “Eu estou com você!” Resultado: todos foram capazes de superar seus medos e cumprir a tarefa que Deus lhes atribuíra.
É possível que todos nós tenhamos nossas desculpas pessoais. Ou quem sabe nos comparemos com outros, pensando que esses se acham mais bem preparados para realizar a obra do Senhor. Precisamos entender que quando Deus chama alguém não o faz com base nas excelentes qualidades desse indivíduo. Chama por causa da disposição dessa pessoa. Ele criou a cada um de nós de um modo especial pelo qual somos capazes de cumprir o plano e o chamado divino para nossa vida.
Chame-o Jesus. Ele é o Salvador.
Chame-o Emanuel. Ele está com você.
E não tenha medo!
Quanto àquela mulher que não queria ir para a Índia, posso dizer que já estive nesse país. E eu preferiria morar ali, ou em qualquer outro lugar do mundo, tendo a certeza da presença de Jesus, a viver na melhor cidade da Terra sem o Senhor. Uma das principais consequências de estudarmos o caráter de Deus e termos experiências com ele é que obtemos a certeza de que...
A qualquer lugar que eu vá com Jesus estarei seguro,
A qualquer lugar que ele me enviar, aqui neste mundo.
Em qualquer lugar, sem ele, minhas maiores alegrias se desvanecem.
Mas em qualquer lugar com Cristo, não temerei nada.
Em qualquer lugar, em qualquer lugar, não sei o que é medo.
A qualquer lugar que eu vá com Jesus estarei seguro.
Hino de Jessie Brown Pounds (1861-1921)
Imaginemos que estamos parados em uma calçada e, em dado instante, um carro para junto ao meio-fio e a pessoa que se acha ao volante diz:
“Entre!”
Obviamente, antes de tudo, vamos querer saber de quem se trata. Se não conhecermos bem aquele motorista, ficaremos na dúvida se seria seguro entrar no veículo. Desejaremos saber mais sobre ele e para onde ele quer nos levar. Entretanto aquela pessoa pode ser um amigo muito chegado, com quem já saímos antes e todas as vezes que o fizemos passamos momentos agradáveis, num passeio que valeu a pena. Nesse caso, logicamente, vamos querer entrar e ir com ele. Teremos certeza de que seja qual for lugar a que ele nos levar esse será o melhor para nós.
E quando Deus nos diz: “Venha! Tenho um plano para sua vida”, poderemos até ficar com vontade de dizer: “Para onde o Senhor vai me levar?” Contudo, se já tivermos aprendido a conhecer o Senhor e a confiar nele, talvez sejamos capazes de responder:
“Claro!”
É que sabemos que, em suas mãos, achamo-nos bem seguros. Temos certeza de que o plano dele é o melhor para nós e que ele tem poder para torná-lo realidade.