Dr. Sudhir Isaiah
Deus Espera Pacientemente!
Muitos crentes conhecem bem um hino que se costumava cantar nas igrejas, alguns anos atrás. Diz o seguinte:
“Manso e suave, Jesus está chamando
Chama por ti e por mim.
Pacientemente, ele espera velando.
Chama, ó pecador, vem! ”
Algumas congregações ainda cantam esse hino. Entretanto, quando pensamos sobre o pecador vir a Jesus, não atentamos para o caráter do Pai celeste, que espera pacientemente, como diz o autor da letra.
Embora o mundo atual esteja se tornando cada vez mais ímpio e mau, Deus continua aguardando pacientemente que todos os pecadores retornem à casa do Pai. Notamos que muitos cristãos se mostram meio desalentados quanto a isso. Eles se indagam por que Deus não destrói este mundo com um estalar de dedos. Assim todos os maus e os ímpios desapareceriam num instante. Pelo menos, é o que muitos cristãos gostariam que ele fizesse. Contudo parece que o Senhor não quer agir assim. E muitas vezes nos perguntamos: Por que será que ele não o faz?
A resposta dessa pergunta é relativamente simples e se acha relacionada com o coração e o caráter de Deus. Um dos principais atributos de nosso Deus é que ele é “longânime”, ou seja, “muito paciente”. Essa característica divina tem uma tremenda importância para a obra de missões. Vamos pensar um pouco sobre o texto de 2 Pedro 3.8-13.
Kairos versus chronos
Em 2 Pedro 3.8, o apóstolo explica o seguinte: “Há, todavia, uma coisa, amados, que não deveis esquecer: que, para o Senhor, um dia é como mil anos, e mil anos, como um dia”. Pedro fez essa afirmação no alvorecer da era da graça, isto é, no início desse período de espera. É meio difícil entender essa idéia de que mil anos para Deus (no tempo dele) são como um dia. Entretanto isso mostra o quanto ele é paciente. Será que Deus é paciente mesmo? Deve ser. Está esperando que todos os pecadores voltem para o lar, para o Pai.
Estamos no terceiro milênio, e temos a impressão de que o tempo de espera está muito “longo”. Se não procurarmos entender a diferença entre kairos e chronos, podemos acabar clamando a Deus:
“Até quando, Senhor? ”
O Desejo do Pai
E o apóstolo Pedro, em sua segunda carta, apresenta ainda outro aspecto do caráter de Deus: o pulsar do coração divino. Diz ele: “Não querendo que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento” (3.9). Deus, por causa do seu plano de salvação, está permitindo que este mundo passe por um prolongado período da dispensação da graça. Quer que todos tenham a oportunidade de se arrepender de sua impiedade, abandonar seus erros e se voltar para o Pai. E, no dia de Pentecostes, aquele apóstolo tinha razão quando afirmou que eles estavam vivendo os “últimos dias” (At 2.16,17). Contudo Deus tinha um plano secreto de conceder ao mundo um período de graça, antes de pôr um fim à rebelião humana e mandar Jesus de volta à Terra para reinar.
Então, com base no que Pedro diz, fica bem claro para nós que Deus não deseja que os pecadores morram em seus pecados. Ele quer que todos tenham uma chance de ouvir a mensagem de salvação por meio de Jesus Cristo. Deseja que se arrependam de sua impiedade e se voltem para o Pai. Portanto, o favor de Deus é extensivo a toda a humanidade, durante esse período. E o apóstolo Paulo também aborda essa “dispensação da graça de Deus” em muitas de suas epístolas. O Senhor continua a demonstrar sua graça para com homens moralmente depravados.
Explicando a Graça e a Longanimidade de Deus
É interessante observar que Pedro, no final de sua mensagem, explica a razão da demora da volta de Cristo para reinar na Terra. Diz ele: “Não retarda o Senhor a sua promessa, como alguns a julgam demorada; pelo contrário, ele é longânime para convosco, não querendo que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento” (v. 9). Então não devemos interpretar essa “demora” de Cristo para voltar, julgar o mundo e reinar aqui como sendo “lentidão” ou “moleza” da parte de Deus. Na realidade, é um ato de paciência: “tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor”.
Vemos, então, que esse apóstolo teve aí um profundo discernimento e sabedoria espirituais. Essa foi a melhor maneira que ele achou para explicar a longanimidade divina. Mas como foi que ele soube que havia se iniciado para o mundo uma nova dispensação da graça de Deus?
Falando sobre a dispensação da “longanimidade” de Deus, Paulo, o apóstolo aos gentios, anunciando “todo o desígnio de Deus” (At 20.27), deu uma ajuda a Pedro. Este explica que sua fonte de informação foram as revelações que Paulo recebeu. Diz Pedro: “Como igualmente o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada” (2 Pe 3.15; 1 Tm 1.15,16). “Por esta causa eu, Paulo, sou o prisioneiro de Cristo Jesus, por amor de vós, gentios, se é que tendes ouvido a respeito da dispensação da graça de Deus a mim confiada para vós outros; pois, segundo uma revelação, me foi dado conhecer o mistério... o qual, em outras gerações, não foi dado a conhecer aos filhos dos homens, como, agora, foi revelado aos seus santos apóstolos e profetas, no Espírito” (Ef 3.1-5). Pedro reconheceu logo a verdade espiritual que Deus entregou particularmente a Paulo, isto é, “o evangelho da graça de Deus” (Gl 2.2,7,9), o mesmo que hoje proclamamos (At 20.24),
Uma Advertência Para que nos Preparemos
No versículo 10, Pedro faz uma advertência meio velada, no sentido de que esse dia que é “como mil anos” pode terminar subitamente. Diz ele: “Virá, entretanto, como ladrão o Dia do Senhor”, isto é, à noite. Nessa ocasião, poderão ocorrer mudanças cataclísmicas inimagináveis e impensáveis, que darão início ao final dos tempos. Portanto, Pedro está mencionando o tipo de vida que devemos estar levando, já que nós, os cristãos, estamos sendo avisados de que tais fatos (as mudanças cataclísmicas) irão ocorrer. Está claro que nosso Deus é muito paciente, que ele deseja que todos os pecadores se arrependam e voltem para o Pai. Contudo está muito evidente também que um dia a paciência dele se esgotará. E como sabemos que aquelas mudanças irão ocorrer, Pedro adverte os cristãos a que tenham uma vida santa e justa. Precisamos entender ainda que o apóstolo escreveu isso no contexto de um iminente retorno de Cristo. Então ele pedia que os crentes tivessem uma vida “sem mácula e irrepreensível”, como se o Senhor fosse voltar a qualquer momento, para que o evangelho fosse pregado a todas as nações. E essa vida “sem mácula e irrepreensível” é a “vestimenta” que todo salvo deve usar para pregar o evangelho.
Vemos, então, que a importância missiológica da longanimidade de Deus se acha de alguma forma relacionada com os seguintes elementos: o kairos (o tempo de Deus), a vontade do Senhor, o arrepenmento dos pecadores e a advertência bíblica.
Já sabemos que o Pai não deseja que nenhum pecador vá para o inferno. Então, meu anseio é que não vivamos acomodados, desatentos para com essa questão da longanimidade do Senhor. É que, enquanto isso, diariamente, uma grande parte da humanidade está entrando na eternidade sem Cristo.
Despertemos! Despertemos! Ainda é dia, mas em breve a noite chegará!