“Alimenta-te da Verdade”

 “Alimenta-te da Verdade”

Myrian Talitha Lins                                                       

Na Mente

“Confia no Senhor e faze o bem; habita na terra e alimenta-te da verdade.” (Sl 37.3.)

             Nós somos aquilo que comemos. Todos sabemos disso. Quem ingere gorduras ou açúcares em excesso, por exemplo (como médicos e nutricionistas estão sempre nos advertindo), mais cedo ou mais tarde, ficará obeso. Será igual àquilo que come. Além disso, certamente vai acabar comprometendo sua saúde. Já quem se alimenta de forma saudável e equilibrada colhe, no próprio corpo, os frutos dessa opção. Nosso organismo vai se formando de acordo com o que introduzimos nele. É; isso todos nós sabemos bem.
            Todavia, ao que parece, existe um fato – paralelo a esse – do qual nem todos temos conhecimento. Refiro-me ao seguinte: o que acontece em nosso ser físico, ocorre também no emocional e espiritual. Aquilo que “ingerimos” no plano emocional ou espiritual também determina como seremos nessas áreas.             Então, se nossa “alimentação espiritual” for adequada, seremos espiritual e emocionalmente bem equilibrados. Contudo, se não tivermos cuidado com aquilo que absorvermos na esfera mental e emocional, obviamente teremos problemas aí. E assim como nos interessamos em verificar as “informações nutricionais” dos alimentos que ingerimos, precisamos também atentar para aquilo com que estamos alimentando nossa alma e espírito.
            Quem “se alimenta” de ódios, mágoas, amarguras e outros sentimentos negativos, por exemplo, acaba tendo uma personalidade marcada por esses “ingredientes”. E fatalmente, com muita frequência, irá expressar-se em termos de revolta contra tudo e todos. Seus atos, palavras e atitudes serão negativos e agressivos.
            Outro exemplo. Quem está acolhendo na mente apenas o “cardápio” que a mídia oferece pode vir a se tornar um pequeno joguete da mentalidade que ela dissemina. Passará a agir e a pensar de acordo com o que dizem os jornalistas, novelistas, entrevistadores, etc. Enfim, seu viver será caracterizado por aquilo que vem “comendo” no rádio, na televisão, nas revistas semanais e similares. Então nosso ser emocional também vai se “formando” de acordo com o que introduzimos nele.
            E com relação a essa questão toda, existe um fato que muita gente desconhece: o diabo cochicha muitas inverdades ao nosso ouvido. Aliás, ele vive sussurrando frases mentirosas em nossa mente. De forma bastante sutil, vai instilando em nós suas falsidades, pois é o “pai da mentira” (Jo 8.44). Também essas – se nós o permitirmos – irão entrar em nossa mente como um alimento. Se assimilarmos as insinuações dele, passaremos a pensar o que ele quer que pensemos.
            E Satanás é tão “atrevido” que atira tais “dardos” em nossa mente principalmente na primeira pessoa, e não na terceira, como talvez pudéssemos pensar. Ele diz, por exemplo: “Ah, eu não vou conseguir superar esse vício! Não sou capaz!” Ou então: “Eu não tenho valor!”
            É verdade que também nos acusa, dirigindo-se a nós na terceira pessoa “Você não vale nada!” Entretanto, na maioria das vezes, introduz seu negativismo em nossa mente como se fosse um pensamento nosso. Quer que creiamos que tais ideias se originam em nós mesmos e, portanto, que são genuínas.
            E por que ele age assim? Porque sabe que aquilo que dizemos para nós mesmos tem muito peso. É interessante observar que, em certos casos, não gostamos de dar atenção ao que os outros nos dizem. Entretanto atendemos prontamente quando somos nós que falamos. Se estou passando por uma aflição, por exemplo, alguém me diz:

            “Calma, Myrian, fique calma!”
            Aí minha vontade é replicar (e por vezes replico):
            “Como posso ter calma numa situação dessas?”
            Entretanto, por vezes, sou eu quem diz:
            “Calma, Myrian, tenha calma. Preciso ficar muito calma agora. Vou me acalmar. Ficar aflita não vai resolver nada!”

            Geralmente, depois de alguns instantes, começo sossegar. Aquilo que falamos para nós mesmos, de fato, pesa muito em nossa reação. Então provavelmente é por isso que o diabo emprega essa estratégia de nos falar na primeira pessoa.
            Os psicólogos William Backus e Marie Chapian abordam essa questão em seu excelente livro Fale a Verdade Consigo Mesmo! Entre outras coisas, eles revelam o seguinte: 
            “... é necessário que cada um compreenda que esses [falsos] conceitos que aplicamos a nós mesmos provêm diretamente do inferno. São escritos e entregues ao destinatário pelo próprio diabo. E ele é perito nessa questão de distribuir tais falsos conceitos às pessoas. Como não quer que descubram que são falsos, faz com que as mentiras que nos diz pareçam verdades.”* 
            Isso acontece realmente. E se lhe dermos ouvidos, poderemos até nos convencer de que são verdadeiros. Esses autores ainda narram uma interessante experiência, que muitos de nós talvez já tenhamos vivido.
            “Lorraine é uma jovem de vinte e seis anos. Foi ela quem nos contou os seguintes fatos.
            “‘Eu interrompera o curso da faculdade e estava de volta à casa de meu pai. Estivera afastada de casa havia vários anos e não conhecia mais ninguém no bairro. Estava tudo muito estranho. Meu pai vivia implicando comigo, insistindo em que arranjasse um emprego, mas eu não tinha muita certeza de que era isso que desejava. Bem lá no fundo, pensava que seria ótimo se me casasse e ficasse livre daquilo tudo. Mas na época não estava namorando ninguém. Bom, mas uma noite estava em meu quarto, sem fazer nada, quando ouvi uma vozinha na mente, que vinha bem de minha cabeça e dizia com um tom lamentoso: Estou tãããão sozinha... Sentei-me na cama e daí a instantes ouvi-me suspirar e repetir em tom de lamúria: Estou tãããão sozinha... E repetira isso do mesmo jeito que o ouvira em minha mente. Aquilo me apavorou. Dei um salto e gritei: Não! Não estou sozinha. Isso é ridículo! Eu não estou sozinha! Não tive a intenção de dizer isso.’
            “Lorraine teve sabedoria para reconhecer que aquilo era um falso conceito. ...Então, disse a si mesma em voz alta: Eu não estou sozinha! Assim fazendo, resistiu à tentação de verbalizar o conceito errôneo.”**

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* Fale a Verdade Consigo Mesmo, Editora Betânia, Belo Horizonte, 1989, p. 17. 
** Ibidem, pp. 35,36 – grifos nossos.

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MYRIAN TALITHA LINS (em memória) formou-se em Missiologia no Seminário Bethany College Missions, Minneapolis, EUA, e em Letras pela FAFI-BH. Durante décadas, foi uma das principais tradutoras da Editora Betânia.

Vida com deus

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