A Sedução dos Atalhos

A Sedução dos Atalhos

Rev. Francisco Côrtes Alves

O ser humano tem uma predileção por atalhos. Atalhos revelam a tendência generalizada de escolher o caminho do menor esforço e também o que exige menos fé. Podemos admitir que a lei do mínimo esforço tem contribuído para o progresso das ciências. Afinal, que estímulo teria o homem para inventar máquinas se não fosse o desejo muito legítimo de poupar o esforço braçal? Escadas rolantes, notebooks... A série toda de inventos que têm tornado menos penosa a existência humana sobre o planeta ilustra a operação da lei do mínimo esforço.

Há, porém, na estrada da vida, atalhos desaconselháveis, pois levam ao desastre. A Escritura Sagrada, como mapa divino que é, aponta vários desses atalhos.

Para aviso nosso, temos a história de Jacó, que enveredou pelo atalho da fraude. Em sua impaciência, tentou Jacó primeiro comprar de seu irmão, Esaú, os privilégios religiosos e civis implícitos na bênção da primogenitura (Gênesis 25.27-34). É o primeiro caso de suborno registrado nos anais bíblicos – a tentativa do mágico Simão foi o último (Atos 8.9-25). Com requintada diplomacia, segundo o relato de Gênesis, ofereceu Jacó ao faminto Esaú um guisado de lentilhas, sob condição de o irmão lhe conceder os direitos da primogenitura.

A bênção extorquida pelo engano não trouxe a Jacó a felicidade com que sonhava. De que valia o título da primogenitura? Sem as qualidades de caráter necessárias, era um título vazio. Só se tornaria válido no dia em que atingisse a maturidade espiritual exigida. Vinte anos de decepções e amarguras foi o quanto lhe custou o atalho da fraude.

O caminho certo teria sido aguar-dar com paciência a bênção paterna, enquanto se qualificava moral e espiritualmente para ela. Aquilo que negligenciara aprender no ambiente favorável do seu lar, desperdiçando sua juventude, Jacó teria agora de aprender no exílio em Harã. Repetidas vezes prejudicado pela desonestidade do astuto Labão, seu tio e futuro sogro, convenceu-se Jacó, enfim, de que o atalho do engano só leva ao labirinto tortuoso do desapontamento, do qual só se sai pela porta do arrependimento.

Quantos jovens não pensam hoje em atingir o êxito pelo mesmo atalho ilusório? Pelo atalho da “cola”, conseguem-se diplomas, mas nunca conhecimento. Não há substituto para o trabalho honesto e perseverante. O atalho da fraude pode trazer riquezas, mas não tesouro no céu; reputação, mas não caráter. Reputação é o que os homens pensam de nós. Caráter é o valor que Deus nos atribui.

Na busca inconseqüente por felicidade, homens e mulheres procuram atalhos. Entretanto, são as leis divinas a melhor salvaguarda da felicidade humana. Na conformidade com essas leis o homem alcança seu desenvolvimento mais elevado.

Criado para refletir o caráter de Deus, o ser humano só é verdadeiramente feliz quando vive em harmonia com a vontade expressa na lei divina. Afastando-se de Deus pelo atalho da desobediência, afasta-se de sua razão de ser como homem feito para glorificar a Deus e desfrutar da comunhão com ele.

 Em meio às crises familiares e conjugais, a infidelidade tem sido um atalho para muitos. Entende-se que o amor irresponsável é indigno do nome, pois não pode haver amor verdadeiro onde não há responsabilidade. O rótulo que lhe cabe é paixão animal e, portanto, subumana. E onde esta impera não há, nem pode haver, genuíno prazer, mas amargura e desapontamento. Dotado pelo Criador para gozar do enlevo de uma união espiritual com a pessoa digna de seu amor, não pode o ser humano nunca encontrar satisfação profunda e duradoura numa união meramente carnal. O plano divino é sempre o melhor. Acatá-lo é descobrir o segredo de uma existência verdadeiramente feliz.

Outro atalho perigoso na estrada da vida é o do jogo. Este visa a dar ao homem bens que ele só pode desfrutar como resultado do trabalho honesto. Daí o dinheiro que se ganha no jogo ser maldito. É maldito porque cria a ilusão de que vivemos num mundo em que domina o acaso caprichoso, e não leis racionais; de que o homem não colhe o que semeia, mas o que a sorte lhe dá; de que é possível vencer na vida dependendo da “chance”, e não do trabalho perseverante. E é maldito porque desqualifica o homem para os deveres sérios; porque diminui o senso de responsabilidade – para que ser responsável se a vida toda é um jogo? Ele também enfraquece a fibra moral – não é o acaso amoral? Na atmosfera corruptora dos bingos e cassinos, dissolvem-se a honestidade e o bom senso. Abre-se a porta a uma multidão de outros vícios: a dependência alcoólica, a mentira, a prostituição. “Um abismo chama outro abismo.”

Na geometria, a linha reta é o caminho mais curto entre dois pontos. Na esfera moral, o caminho reto pode não ser o mais curto. Quase sempre é o mais penoso. Mas é o único digno de ser palmilhado por aqueles que aspiram à vida imortal com Cristo Jesus.

Não há atalhos para a eternidade. Na estrada retilínea da glória eterna, é nosso privilégio ouvir a voz do Deus que nos ama e deseja nosso êxito na jornada da vida. Ele diz aos nossos ouvidos: “Este é o caminho, andai por ele” (Is 30.21).

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1 comentário

Guilherme

A bênção de Deus enriquece e o caminho de Deus é perfeito, mesmo que seja mais longo e tortuoso.

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