A Maravilhosa Realidade do Perdão
T. A. Hegre
Existe perdão para cada ofensa do homem. Cristo veio para derrubar as barreiras que nos impedem de conhecer... A Maravilhosa Realidade do Perdão
“No dia seguinte, viu João a Jesus, que vinha para ele, e disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo! Eu não o conhecia; aquele, porém, que me enviou a batizar com água me disse: Aquele sobre quem vires descer e pousar o Espírito, esse é o que batiza com o Espírito Santo”. (João 1.29,33.)
Esse trecho das Escrituras revela a dupla obra de Cristo: tirar o pecado do mundo, e batizar com o Espírito Santo. Neste artigo, tentaremos limitar-nos ao estudo da primeira declaração, pois existe certa confusão em torno do conceito de perdão e de livramento do pecado.
Para que Jesus pudesse tirar o pecado do mundo, e batizar com o Espírito Santo, foi preciso que ele entregasse sua vida, pois não havia outra maneira de se concretizar a redenção do homem. Originalmente, o homem foi criado como um ser justo. Foi feito à imagem de Deus, e era totalmente sem pecado. Mas quando pecou, perdeu essa imagem; a imagem moral. Contudo Deus não ficou frustrado nem teve dificuldade em encontrar uma solução. Ele já havia providenciado um meio de recuperar o homem, caso este viesse a pecar.
Lemos no livro de Apocalipse que o Cordeiro de Deus foi imolado antes da fundação do mundo. Portanto, na mente e no coração de Deus, já estava preparada a solução. E assim, quando o homem se desviou para trilhar o seu próprio caminho, imediatamente Deus veio a ele, e fez-lhe uma promessa de restauração na forma de uma profecia.
O Senhor mostrou a Adão e Eva a necessidade de se consumar um sacrifício. Começou demonstrando a necessidade, o método, e o significado do sacrifício, cujo objetivo era a expiação dos pecados, e não apaziguar a ira de Deus. Muitos pagãos, hoje, abrigam a ideia de que Deus precisa ser apaziguado. Creem que existe algum aspecto da natureza de Deus que deve ser modificado; que ele não deseja perdoar-nos, e que não o fará enquanto não fizermos algo que lhe agrade. Isso não é verdade. Nosso Deus é um Pai Amoroso e deseja perdoar-nos, mas só pode fazê-lo se, com isso, sua lei não for enfraquecida. Foi por isso que ele estabeleceu o sacrifício, e mostrou a razão dessa exigência. Tudo isso, naturalmente, tipificava o Calvário que viria.
Aqueles que, pela fé, o enxergaram, compreendendo e crendo naquilo que o sacrifício simbolizava, começaram a perceber que o seu Deus era um amoroso Pai celestial, e que estava desejoso de perdoá-los. Por intermédio do perdão, eles poderiam tornar- se filhos de Deus.
Ao que parece, os primeiros patriarcas criam que o Messias e Salvador nasceria em seus dias. Mas ele só veio a nascer milhares de anos depois, em Belém. Na plenitude dos tempos, Jesus nasceu de uma mulher. Viveu nesta terra como um homem, dando aos homens seu exemplo e seus ensinos. E afinal chegou o momento em que se cumpriria o verdadeiro objetivo de sua encarnação – o Calvário. Em seguida, foi sepultado e ressuscitou no terceiro dia; subiu aos céus e depois derramou o seu Espírito Santo. Pelo seu Espírito, ele está tentando ensinar-nos o caminho da salvação; o meio de obtermos o perdão. Nosso Deus é um Pai celestial amoroso, que deseja perdoar-nos. Mas para fazer isso e continuar sendo um Deus justo, ele não pode contrariar suas próprias leis, nem enfraquecer sua autoridade.
Barreiras para o perdão
Existem certas barreiras para o perdão, e Jesus veio ao mundo exatamente para remover as barreiras que havia entre o homem e Deus. Na cruz do Calvário, Jesus Cristo, nosso substituto, satisfez plenamente a justiça e a lei de Deus. Portanto, no Calvário, a barreira que havia do lado divino foi tirada.
Em Isaías 42.21, lemos o seguinte: “Foi do agrado do Senhor, por amor da sua própria justiça, engrandecer a lei e fazê-la gloriosa”. E no Calvário Deus cumpriu a lei; não omitiu nem uma dela. Com base no que Deus realizou através de seu Filho, Jesus Cristo, nós somos perdoados.
O arrependimento é imprescindível
Mas existem barreiras também do nosso lado. Por exemplo, Deus nunca perdoa um pecador que não tenha se arrependido, pois isso não seria uma medida segura para o seu governo. Tampouco ele considera justa uma pessoa ímpia. Primeiramente ele torna a pessoa justa, e só depois é que a declara justa. Deus justifica a todos que se arrependem de seus pecados e creem em Jesus Cristo.
Arrepender significa mudar de ideia, dar uma meia volta. Orientávamos nossos pensamentos em certa direção, e agora temos de orientá-los em outra. Costumávamos arranjar desculpas para nossos erros, ficar sempre na defensiva, e julgar a nós mesmos, comparando-nos com os outros. Agora, porém, estamos convictos de que pecamos contra Deus. Se deixarmos que o Espírito atue, e nos rendermos à sua orientação, reconhecendo nossa verdadeira condição e não nos desculpando mais, receberemos o perdão tão logo exercitemos fé em Jesus Cristo.
Precisamos receber o perdão
O perdão é uma dádiva que tem de ser recebida. Podemos perceber essa verdade no caso de um homem que estava cumprindo pena numa prisão, por haver sido condenado por um crime. Esse homem tinha tantos amigos intercedendo por ele, que o governo foi levado a perdoá-lo. Entretanto, para surpresa de todos, ele recusou o perdão, e o caso foi levado ao Supremo Tribunal, para se ouvir a opinião dos ministros. Eles declararam que o perdão era um instrumento da lei, que não apenas deveria ser promulgado mas, também, recebido. Porque aquele homem recusou-se a ser perdoado, continuou na prisão.
E assim acontece conosco: precisamos receber o perdão de Deus. Existem algumas pessoas que receberam o Senhor Jesus Cristo em seu coração, para ser seu Senhor e Salvador, mas que ainda têm dificuldades em crer no perdão de Deus. Isso acontece porque não têm uma consciência perfeitamente purificada; esperam purificar a consciência pela confissão repetida de seus pecados. Entretanto essa confissão não tem nenhum valor. As pessoas se sentem bem durante algum tempo, mas pouco depois volta-lhes o senso de culpa. Elas precisam “receber” o perdão, num ato deliberado, das mãos de Jesus e crer, com perseverança, que ele lhes concedeu a dádiva do perdão. Como na ilustração que mencionamos, se elas não receberem o perdão, não poderão desfrutá-lo.
Precisamos consertar nossos erros
Outra barreira é a falta de preparação. Se roubamos os bens de alguém, temos de devolvê-los. Se prejudicamos as pessoas, temos de pedir-lhes perdão. Se praticamos quaisquer outros atos maus, temos que reparar essas coisas, na medida do possível. Se não agirmos assim, não poderemos ter a fé e a consciência pura que tanto desejamos.
Algumas pessoas dizem que “não é necessário fazer reparação do erro, pois tudo já foi coberto pelo sangue de Jesus”. Será que você concorda com isso? Suponhamos que você tivesse roubado o carro do seu vizinho, e depois que se converteu, continuasse a rodar no carro dele. O que será que ele pensaria de sua fé? Será que não esperaria que o carro lhe fosse devolvido? Você nunca poderia, em sã consciência, continuar usando o carro do outro, e dizer: “Isso foi coberto pelo sangue de Jesus”. E se podemos aplicar esse princípio num caso como esse, também devemos aplicá-lo às questões de menor monta. Temos de reparar aquilo que pode ser reparado.
Acho que seria bom se fizéssemos a nós mesmos algumas perguntas. Já roubamos alguma coisa e não devolvemos? Já mentimos? (Uma mentira que não tenha sido esclarecida pode fazer com que as pessoas nunca mais confiem em nós.) Perdemos a calma? Prejudicamos a reputação de alguém por meio de boatos e difamações? Fomos ingratos com alguém. Abrigamos espírito de amargura? Temos atitudes de rebeldia? Temos de confessar nossos pecados, porém também é preciso perdoar aos outros. Precisamos do poder do Espírito Santo. Uma consciência pura nos dá coragem e possibilita a manifestação do Espírito Santo por nosso intermédio.
Precisamos perdoar para sermos perdoados
O Senhor deseja perdoar-nos; ele quer tirar o pecado de nossa vida para que possamos ter a justiça de Deus. Ele não deseja apenas chamar-nos de justos: ele realmente torna-nos justos.
Contudo muitos dizem: “Eu não me sinto justo”. Então deve haver outra barreira impedindo que a consciência fique perfeitamente pura. Em Marcos 11.25, Jesus afirmou o seguinte: “E, quando estiverdes orando, se tendes alguma coisa contra alguém, perdoai, para que vosso Pai celestial vos perdoe as vossas ofensas”.
A mesma verdade é ensinada no Pai Nosso, em Mateus 6.15, onde Jesus diz: “Se, porém, não perdoardes aos homens [as suas ofensas], tampouco vosso Pai vos perdoará as vossas ofensas”. Portanto precisamos perdoar, e isso significa ter para com a pessoa que nos ofendeu a mesma reação emocional que tínhamos antes de ter ocorrido a ofensa.
Precisamos acautelar-nos, também, de formas errôneas de confissão. Por exemplo: “Eu errei, mas você também estava errado”. Não é essa a maneira correta de confessar. Também não devemos dizer: “Perdoe-me, se eu agi errado”. Na verdade, o que estamos dizendo com isso é o seguinte: “Se minha personalidade, pela qual não sou responsável, o ofendeu, deve ser que você tem alguma dificuldade em se relacionar com as pessoas; vou ser camarada e assumir a culpa de tudo”. Num caso desses, a outra pessoa devia responder: “Diga-me em que você errou, e eu o perdoarei”. Devemos sempre mencionar o erro que cometemos.
Sabemos que existem coisas que fizemos que nem devem mais ser mencionadas, e até a Bíblia diz que é vergonhoso citá-las. Se esse é o caso, devemos dizer: “Tenho sido um péssimo exemplo como cristão. Por favor, perdoe-me”. Se quisermos possuir aquela perfeita comunhão com os irmãos, uma comunhão que nos faça fortes no Senhor, e nos dê ousadia, de tal modo que o Espírito Santo possa operar através de nós, em espírito de sabedoria e compreensão, precisamos perdoar e ser perdoados.
Não acreditamos que alguém possa ser justo e ímpio ao mesmo tempo. No dia da expiação, o povo de Israel tinha que apresentar dois bodes. O primeiro era imolado perante a congregação. Esse sacrifício mostra o aspecto substitutivo da obra de Cristo: ele morreu em nosso lugar. Porém, se esse fosse o único sacrifício realizado, algumas pessoas poderiam entender que sua culpa havia sido perdoada, e o castigo suspenso, mas elas tinham de continuar pecando.
Sobre o segundo bode eram confessados todos os pecados do povo, e o animal era conduzido ao deserto pela mão de um homem designado para isso. Creio que esse homem representava o Espírito Santo. O Espírito do Senhor quer nos ensinar que, no que diz respeito a Deus, a culpa e o castigo foram afastados, e Cristo levou sobre si os nossos pecados. Temos a salvação através do arrependimento e fé. Queremos que o Espírito Santo opere profundamente em nossa vida. Entretanto ele operará somente até onde a cruz já operou; até onde vai nosso arrependimento.
Se não confessarmos e abandonarmos todos os pecados, e fizermos reparação do erro, encontraremos dificuldades em orar, pois haverá sempre uma voz a inquietar-nos, dizendo: “Isso não vai dar certo. Não pode dar certo”. Contudo, quando confessamos e abandonamos nosso pecado, temos ousadia e segurança na oração.
Deus já cumpriu plenamente a sua parte; agora é a nossa vez. O Senhor quer encher-nos do Espírito Santo e, através dele, capacitar-nos a caminhar em santidade e perdão, o caminho do calvário. Todo crente que remover as barreiras que há de seu lado, terá o poder de que precisa para viver uma vida assim.
O Pr. Ted A. Hegre é o fundador da Missão Evangélica Betânia. Foi chamado para estar com o Senhor em 1984.
Foto: Chris Barbalis