A Fé do Coração

Em Romanos 10, encontramos uma definição clara e distinta do tipo de fé que nos salva, unindo-nos a Jesus Cristo.


“Porém que se diz? A palavra está perto de ti, na tua boca e no teu coração; isto é, a palavra da fé que pregamos. Se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo.” (Vv. 8,9.)


É possível uma pessoa aceitar esses fatos apenas no intelecto – isto é, acatar as doutrinas e submeter-se aos rituais – mas não possuir a fé que salva. Alguns podem até cantar as palavras do hino de Daniel Whittle:


Não sei como foi que essa fé que salva,

A mim ele concedeu;

Nem como a fé em sua Palavra

Trouxe paz ao meu coração.


“Essa fé que salva, a mim ele concedeu...” Será que alguém acha que, sem a ajuda de Deus, um miserável pecador empedernido, mais desejoso de comprar a salvação do que tudo, poderia voltar os olhos do espírito a 2.000 atrás, ver um judeu morrendo numa cruz romana, e crer realmente que a morte daquele Homem tem poder para alterar seu destino eterno e seu caráter?

Não, claro que não. Essa fé tem de ser vitalizada. Só assim se tornará a fé que salva, a fé do coração, que decorre do arrependimento.

Foi por isso que Paulo disse aos efésios: “Jamais deixando de vos anunciar coisa alguma proveitosa e de vo-la ensinar publicamente e também de casa em casa, testificando tanto a judeus como a gregos o arrependimento para com Deus e a fé em nosso Senhor Jesus [Cristo]” (At 20.20,21).

E os dois precisam ocorrer nessa ordem, pois assim é gerada a fé do coração.

O conceito de crer, atualmente, acha-se por demais desgastado. Crer, hoje, é apenas fazer um leve aceno de cabeça concordando com algo. Isso é o que chamo de “fé intelectual”. O que significa crer? Significa viver e agir de acordo com determinados fatos.

Na Idade Média, quando um senhor feudal, ou um nobre importante, um rico proprietário de terras, era ferido numa batalha, ele designava um de seus servos para lutar em seu lugar até que se recuperasse. Assim a vida daquele nobre era poupada por seu servo leal. E geralmente, em retribuição pelos serviços prestados, o nobre concedia liberdade àquele servo. Dava-lhe alguns cavalos, umas cabeças de gado, galinhas, patos, e um pedaço de terra para cultivar. Mas, como já estivera a serviço dele, o servo poderia ser chamado de volta a qualquer momento. E o patrão perguntava ao servo:

– Se eu precisar de você outra vez, virá auxiliar-me?

– Virei sim, respondia ele.

Então era muito comum um criado daquele nobre aparecer um dia à porta de um antigo servo, que agora vivia tranquilo, gozando sua liberdade com a mulher e os filhos.

– O senhor precisa de seus serviços. Você deve apresentar-se ao castelo amanhã, ao amanhecer.

– Qual é o problema?, indagaria o ex-servo.

– Estamos sendo ameaçados de invasão. Leve seu arco e flechas.

Então o servo se preparava para a batalha. Sua esposa compreendia bem a importância do chamado. Naquela noite os dois nem dormiriam. Bem cedo, de madrugada, o homem se aprontaria para partir, mas antes de sair daria uma olhada no filhinho que dormia no berço. Era possível que nunca mais retornasse, mas teria de ir, pois entregara a vida a outrem. Então, antes de o sol nascer, despedia-se da família, de sua casa, e partia para o castelo.

No caminho, encontrava-se com outros soldados, e todos se reuniam no pátio, esperando o dia amanhecer. Assim que o sol despontava, alguém abria uma porta e uma voz os chamava para que entrassem, um a um. Nosso amigo entrava no castelo e era saudado pelo nobre, seu senhor.

– Como está, meu amigo?

– Muito bem, senhor.

– Está disposto a pegar minha moeda e deixar sua marca nela?

– Estou, senhor; estou, sim.

Então, um dos criados do barão adiantava-se e entregava ao servo uma moeda de ouro pertencente ao nobre. O soldado colocava-a entre os dentes e a mordia, deixando impressa nela sua marca pessoal, que era como as impressões digitais. Ao morder a moeda do seu senhor, ele deixava nela sua marca, o seu nome.

Aquele nobre interpretava isso assim: “Esse homem crê em mim. Todos os seus atos, a sua vida, serão regidos pelo que eu ordenar; ele está sob meu comando”. É esse tipo de fé que resulta na grande salvação de Deus.

Ir ao Senhor Jesus Cristo é entregar todo o nosso ser a ele. É viver de acordo com a sua vontade, enquanto existirmos. É, por assim dizer, morder uma moeda de ouro; é entregar tudo a Deus, assim como Abraão entregou.

Você é esse tipo de crente? Se já se conscientizou de sua condição de pecador, já experimentou a convicção de pecados, arrependeu-se, e agora, pela fé, deseja “nascer” na família de Deus, você é. Crer, segundo a definição dada pelo Deus da Bíblia, significa obedecer ao apelo do Espírito, entregar-lhe a vida, de bom grado e humildemente, por intermédio de Jesus Cristo. É assim a fé salvadora, a única que Deus reconhece.

Depois de nos entregarmos a ele, temos de ir aplicando em nossa vida o princípio da entrega pessoal a cada momento. Tudo que o crente é e possui pertence a Deus. Entendamos uma coisa com muita clareza: o crente é simplesmente o guardião de tudo que Deus lhe confia. Alguém afirmou que a melhor maneira de um homem aplicar seus bens, isto é, com menores riscos e maiores dividendos, é entregar tudo nas mãos de Deus. Essa é a definição mais simples de “viver pela fé”.

É claro que podemos confiar em que Deus cumprirá sua Palavra. Então vamos continuar exercitando a pequena fé que temos, para que ela cresça e nós possamos fazer uso dela sempre que precisarmos.

Sendo novas criaturas de Deus em Cristo Jesus, temos de demonstrar nossa semelhança com ele em nosso viver diário. Precisamos dar lugar a Deus em todos os aspectos de nossa existência e confiar plenamente nele. É isso que significa “viver pela fé”.

O crente tem de ser semelhante a Cristo em tudo – nos hábitos, nas conversas e em suas metas de vida – não apenas aos olhos de Deus, mas também aos do mundo. Nossa parte é simplesmente obedecer; a de Deus é cumprir o que prometeu e operar de acordo com sua Palavra. Sempre que Deus ordena que façamos alguma coisa, ele nos concede seu poder, capacitando-nos a obedecer-lhe.

Todos os crentes em Jesus Cristo têm de viver pela fé, aplicando-a a todos os aspectos de sua vida. E isso é para todos, e não apenas para missionários, pastores e evangelistas.

O viver cristão é um “caminhar” pela fé. Dia a dia, passo a passo, vamos percebendo que o Senhor está nos moldando cada vez mais segundo a sua vontade. Ele desejar tornar-nos semelhantes a si mesmo, operando em nós apenas até onde pudermos suportar. Seu objetivo é fazer de nós instrumentos que ele possa usar para sua glória.

Então, abramos o coração para ele mais e mais, sem receios, para que ele opere em nós com toda liberdade, e ministre a outros por nosso intermédio. Somente assim, glorificaremos nosso Pai celeste.



Paris Reidhead foi pastor, missionário e conferencista. Toda a sua vida foi devotada à pregação do evangelho por todo o mundo. Este artigo foi extraído do seu livro Crentes que Precisam de Salvação, publicado pela Editora Betânia.

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