O Melhor Investimento que um Pai pode Fazer
Rob Parsons
Quem tem filhos pequenos, preste muita atenção ao que vou dizer sobre os adolescentes, para evitar certos problemas. Enquanto eles são pequenos, abrem totalmente o coração para nós. Já o adolescente fala por resmungos. Na infância, eles adoram andar na rua de mãos dadas com o pai. Na adolescência, nem querem que o vejam em sua companhia. Hoje, eles vão dormir por volta de 10:00 horas. Quando forem adolescentes, você poderá ter de ficar acordado até de madrugada, preocupado com eles. No presente, você acha o quarto deles muito bagunçado. Na adolescência, talvez precise tomar uma antitetânica antes de entrar.
Se, por um lado, tudo isso é verdade, por outro é muito provável que, se lhe dispensarmos atenção quando estão com 5, 6 e 7 anos, eles nos escutarão quando tiverem 15, 16 ou até 17. Lloyd, meu filho, tinha o hábito de entrar comigo no banheiro todos os dias pela manhã, quando eu ia me barbear.
“Pai, me conta uma história enquanto o senhor faz a barba”, dizia.
Criamos um personagem imaginário, de nome “Tommy”, protagonista de grandes aventuras. A de que ele mais gostava era uma em que um garoto brigão ia bater em “Tommy” sem saber que na verdade estava diante era de seu irmão gêmeo, por acaso faixa preta de caratê.
Todas as manhãs, ele me pedia para eu lhe contar uma história. Certo dia, porém, não apareceu mais. Nem mesmo se deu ao trabalho de dizer:
“A propósito, pai, hoje é a última vez que quero ouvir história.”
Essa fase se encerrou num dia frio de inverno, às 7:00h da manhã. Era apenas uns instantes que passávamos juntos, e eu lhe contava uma história. Contudo o princípio se aplica a todas as situações da infância. Nesse período, os filhos querem estar conosco. Querem saber o que pensamos. Perguntam coisas que são do interesse deles e escutam o que temos a ensinar-lhes e é importante para nós. Quem melhor ilustrou o fato de que nossas oportunidades de conviver com os filhos na infância são breves demais foi Harry Chapin, que compôs uma música intitulada Cat’s in the cradle (O gatinho está no berço). Nela, ele fala de um garoto que todos os dias pedia ao pai que passasse alguns momentos com ele.
“– Quando é que você volta, papai?
– Não sei, mas a gente vai se ver. E aí vamos nos divertir a valer.”
Mas esse pai é muito ocupado: “Tenho contas a pagar, aviões para pegar.”
E mais adiante, o menino cresce, completa 10 anos, e sempre dizendo:
“– Obrigado pela bola, pai. Vamos lá fora jogar?”
E o pai continua só prometendo que muito breve eles vão sair juntos. Afinal acontece o inevitável: o garoto se torna adulto. Agora o pai tem bastante tempo para estar na companhia dele, mas a oportunidade passou.
“Outro dia ele chegou da faculdade,
Está mesmo um homem feito, e tive de dizer:
– Filho, estou muito satisfeito com você. Sente-se um pouco aqui.
Ele abanou a cabeça e respondeu sorrindo:
Eu só queria mesmo, pai, é pegar o carro emprestado.
Será que pode ser? Eu o vejo mais tarde!
Quando é que você volta, filho?
Não sei, mas a gente vai se ver. E aí vamos nos divertir a valer.”
São poucos os que podem pensar nessas questões sem sentimento de culpa. E com certeza, os momentos que passamos em companhia dos filhos quando eles estão pequenos são da maior importância. O melhor de tudo, porém, é que em qualquer idade, seja 3 ou 33, sempre podemos exercer uma forte influência em sua vida. Muitos homens começam a ter um bom relacionamento com o pai depois que saem de casa. E seja qual for a fase em que nos encontremos, os elementos de que precisamos para essa convivência continuam os mesmos: tempo e a disposição de aproveitar o momento presente.
Vamos, então, pensar nesses dezoito anos iniciais da vida de nossos filhos, imaginando que a ampulheta, em vez de areia, contém dias. Nesse caso, quando eles nasceram, ela estava com 6.570 dias. Se nosso filho já completou dez anos, já se passaram 3.650 dias. Restam apenas 2.920. Lembremo-nos de que nunca poderemos aumentar esse número, mesmo que tenhamos muito dinheiro, poder ou prestígio.
Foto: Danielle MacInnes
Rob Parsons é diretor de CARE for the Family e conferencista mundialmente conhecido na área de relacionamento e vida familiar.
Esse artigo foi extraído de seu livro O Pai 60 Minutos, publicado pela Editora Betânia.
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6 comentários
marcos
gostei muito. especialmente porque tenho um filho exatamente com 18 anos e ouyro com 16. Uma bençao o artigo. valeu
Daniel Santana de Oliveira
Fico contente com o texto. Eu posso ficar satisfeito, pois fiz isso acontecer em minha vida: estive presente na infância de minhas duas filhas!
Digo o mesmo de meu pai. Deus nos ajudou. Hoje sei o que é ser filho e pai. Também sei que quando crescemos os contatos, as histórias, o apego, e muitas coisas que fazíamos juntos (pai/filho), diminuem, mas ficam de outra maneira: adulta. Nos tornamos diferentes, mas não indiferentes. Tudo depende de como fomos com nossos filhos na infância..
Elizabeth
Este artigo é muito útil para todos os pais, e mães podemos aplicá-lo em nossas vidas.
Guilherme Moura
Muito interessante e verdadeiro, vale a pena ler e meditar a respeito. Pena que muitos pais só se dão conta disto tarde, quando os filhos já saíram de casa.
Jaciren
Chorei…
maria de lourdes
Gostei muito do artigo. Vou lê-lo no seminário de família que farei esta semana. Muito apropriado, verdadeiro e real! Parabéns ao autor.